Habitações tradicionais dos Povos do Alto Xingu são inspiradas no corpo humano.
Paola Antony
Dentre as coisas bonitas de se ver em visita a Aldeia Multiétnica – território localizado na Chapada dos Veadeiros – estão as ocas de diferentes etnias. Uma delas é a Oca dos povos do Alto Xingu.
Com uma estrutura de madeira e coberta com palha, como a maioria das habitações indígenas, a casa tradicional dos povos do Parque Nacional do Xingu chama atenção por ser grande, comprida e toda fechada. Tem duas portas no centro – uma na frente e outra atrás da casa, em linha reta. Apesar do tamanho padrão, parecem pequenas para quem as vê se abrindo para uma construção tão grande.
Lá dentro, nas laterais, se encontram redes armadas, lado a lado e simetricamente penduradas.
“Tem muita matemática aqui” diz Anuiá Yawalapiti – arquiteto Xingu, que me recebeu no centro da oca, em volta de uma fogueira. De lá, ele me contou que o criador se inspirou no corpo humano para projetar a casa. “É um corpo em pé, de abraços abertos”, conta Anuiá. “Lá é boca, aqui é bunda. Lá entra coisa boa e aqui sai coisa ruim. Dentro do corpo humano tem bactérias, vírus, vermes que trabalham no corpo também. Então, aqui você vê, tem pindala, tem vara e tem brinco, que é a pintura. Dentro da oca, lá no alto foi criado uma espécie de ventilador que puxa a fumaça e sai lá para cima. Oca também precisa de fogo para esquentar. Para madeira ficar forte. Para a palha também ficar forte e esquentar a gente dentro da oca. Então aqui você não sente frio, lá fora está frio”. Comenta Anuiá. Existe uma ordem interna que determina que o lado direito da oca seja destinado ao cacique com os filhos, “como meu pai”, diz ele. “Quando minhas irmãs se casarem ficarão deste lado também, que é o quarto. E aqui no centro fica livre. É onde a gente faz a festa de taquara, onde as mulheres trabalham. A gente faz esse corpo humano funcionar por dentro. E é assim que a gente dominou o Xingu, brinca.
A oca construída por eles na Aldeia Multiétnica é grande. Nas aldeias do Xingu as dimensões irão depender do tamanho da família. “Se a família for muito grande a gente faz oca muito grande”, conclui Anuiá. Vale ainda dizer que os xinguanos associam a moradia à proteção xamânica, de cunho espiritual.
Para ouvir a entrevista clique no link https://soundcloud.com/radioeixo/arquitetura-xinguana-radioeixo?in=radioeixo/sets/aldeia-multietnica-2024
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