Assis Medeiros nasceu no Recife e, aos 3 anos, mudou-se para João Pessoa - PB. Morou também em São Luiz - MA e, há um bom tempo, se estabeleceu em Brasília. Traz uma influência musical abrangente, que vai dos folclores nordestinos ao rock, passando pela MPB.
Toca guitarra, violão, canta, compõe e se aventura a tocar outros instrumentos, se preciso for, para aquela música que ele está imaginando.
Assis tem 5 discos gravados. Vamos ouvir parte desse seu grande repertório e também suas histórias.
Paola Antony – E aí, Assis, o que anda fazendo na música?
Assis Medeiros – A gente nunca fica sem fazer nada, né? Na verdade, estou terminando de gravar um disco novo, mais um disco que estou gravando sozinho. É um disco bem simples, de violões, um pouquinho de guitarras, mas tudo pouco. É um disco econômico. Eu resolvi fazer na quarentena.
Paola Antony – Para aproveitar a oportunidade? E você tem tudo em casa, não tem?
Assis Medeiros – Pois é, já são dois discos meus que produzi e gravei aqui no Ponto sem nó, o nome do estúdio, e agora estou terminando este também. As gravações estão quase no fim. Cipó com Serpente, o nome do disco.
Paola Antony – Vixe, Cipó com Serpente? Que coisa doida! (risos).
Assis, você produz muito, não é? Estava aqui lembrando, são 4 discos, sendo um duplo, O Baiãozinho nu Ar; 5, portanto.
Assis Medeiros – Isso, mas, na verdade, há mais um que nunca foi lançado, que fiz com Hamilton Oliveira e Ana Areias, que se chama Pirata. É um disco que a gente fez mambembe, fez algumas cópias e nunca colocou nas plataformas. Então, seriam seis. Mas você sabe que eu estou organizando as trilhas, tenho muita coisa produzida, gravada, que nunca foi lançada, principalmente filmes. Vou lançar a do sertão, que foi a primeira que eu fiz, que é um trabalho todo de viola de 10 cordas, junto com Chiquinho, que é percussionista da Paraíba, e Xisto Medeiros, contrabaixista do quinteto de cordas da Paraíba. É um trabalho antigo e já está pronto para ser lançado. Chama-se Sertão do Meu Amor.
Paola Antony – Assis, você é uma pessoa que compõe sem parar, tem um trabalho autoral vasto. Vamos começar pelo Burro de Carga? Puxa aí pela sua memória, você tem alguma memória ou histórias desse momento da sua vida?
Assis Medeiros – O Burro de Carga veio num momento em que me senti plenamente capaz de gravar uma coisa minha e colocar para fora. É engraçado, porque o Burro de Carga é muito eclético, você vê um monte de coisas de Nordeste, mas também balada. Tem de tudo lá. E depois eu fiz um disco de baião e fui fazendo coisas diferentes, mas talvez o Burro de Carga seja o disco que resuma a minha música, porque eu não tenho um estilo. Algumas pessoas me colocam nesse lugar de nordestino, mas eu nem acho que nordestino hoje seja algo muito diferenciado, algo como, ah, isso é nordestino, não. O baião para mim, por exemplo, é como samba, é música brasileira, que tem uma abrangência enorme, você escuta baião até em Radio Head.
Paola Antony – Assis, quanto tempo depois você lançou o segundo álbum, o Baiãozinho nu Ar? E que diferenças ele trouxe?
Assis Medeiros – Foram uns 3 ou 4 anos, mas é porque o Baiãozinho nu Ar, que é o segundo disco, e é duplo, deu muito trabalho, porque as faixas do Baiãozinho são 11 baiões tocados com quarteto de cordas e com arranjos de sopro. Há clarinetas, naipe de metal, há muita coisa nesse disco, muitos arranjos, deu muito trabalho. Eu me lembro que demorou para terminar.
Paola Antony – Por que você partiu para esse processo mais trabalhoso?
Assis Medeiros – Eu sempre brinco dizendo que isso é só um capricho meu; ao invés de colocar um teclado fazendo cordas, vamos colocar um quarteto de cordas. Todo mundo ri e diz: "No final, alguém vai perguntar, quem tocou o teclado?". Porque eu já cansei de ouvir isso (risos). Mas há uma música em que dá para ouvir o músico no violão cello e a respiração dele.
Paola Antony – Você acha que um sintetizador de fato faz o mesmo som de um quarteto de cordas?
Assis Medeiros – Olha, eu não acredito que hoje as pessoas saibam diferenciar cordas gravadas de verdade de um sintetizador, porque, na verdade, os sintetizadores têm esses sons sampleados. Dependendo da forma como for feita, a maioria das pessoas não vai escutar, não. Na década de 70, tudo era feito com cordas. O que era cordas era cordas, porque não havia nenhum sintetizador daqueles. Eu faço um programa na Rádio Senado com o Walter e o Ronaldo que se chama Simples Assim. A gente toca músicas da década de 60, 70. Música brega, música romântica, e todas as músicas têm arranjos incríveis, mas hoje, não. Hoje as pessoas não ligam tanto para o arranjo como ligavam antigamente. A música pop não traz a exigência do grande arranjo.
E há o outro disco do álbum Nu Ar, que é justamente o contrário do Baiãozinho, pois é um disco de rock'n'roll tocado por um trio ao vivo. Depois eu coloquei uns teclados, outras guitarras, mas a base do disco foi gravada por mim, Marco Guedes na bateria e Fernando Fernandes no baixo, tocando junto. No Baiãozinho eu toco violão, viola e berimbau. No outro, guitarra e teclados.
Paola Antony – Assis, a gente vem falando da música, dos arranjos, dos instrumentos. Mas você também escreve. Como é essa parte da criação, é terapêutica?
Assis Medeiros – Eu acho que é o mais terapêutico. Pronto, a gente estava falando do Baiãozinho nu AR e se a gente pular para o Lâmina, que é o terceiro trabalho, a capa já sou eu com a barba toda cheia de corte e ali eu estava com uma crise de coluna que tive de operar, minha mãe estava doente, ou seja, eu passei por um processo turbulento, e o nome do disco é Lâmina e está tudo lá. Ali, sim, eu posso lhe dizer que 70% é autobiografia do processo da vida e de como fez parte do tratamento escrever aquele disco. É um disco bem pesado, com muita guitarra, muito improviso. Em mais da metade daquele disco era eu tocando a guitarra. Eu dava o “rec” e tocava, e o que viesse era o que era.
Paola Antony – E, aí, a gente chega nesse seu último disco, Anarquia e Amor, que foi gravado no ano passado. Nesse disco você está mais swingado, mais latino.
Assis Medeiros – Tem uma coisa, tem. Há uns sopros, uns reggaes. Há três reggaes. É um disco que tem também arranjos de cordas. Tem até harpa nesse disco, duas músicas com harpa. Enfim, é um disco que tem uma instrumentação interessante. Nesse disco, pela primeira vez na vida, eu fiz uma coisa absurda, gravei e mixei o disco juntamente com Leonardo Batista, o que poderia ser considerado um crime, porque o próprio artista gravar e mixar seria um crime, mas, como o orçamento não previa mixagem, aliás o orçamento sou eu, porque eu não pego grana de lei, sempre produzi os meus discos, então, eu ia mixando e mandando para o Leonardo e ele ia modificando e me mandando as dicas de lá, porque ele fez todos os arranjos e sabia o que era o disco. Acho que funcionou legal, mas não vou fazer isso no próximo, não.
Paola Antony – Assis, esse é um passeio pela sua obra que mostra um pouco de você. Você acha que a pessoa que acompanhou entende, mais ou menos, quem é o Assis, passa a entender melhor quem é o artista?
Assis Medeiros – Ou então se confunde todinho (risos). Escuta Banzo Beleza e depois escuta, sei lá, Estrelas de Portugal e pergunta: é a mesma pessoa?
Paola Antony – Mas esse é você, né, Assis? Vários caminhos musicais...
Assis Medeiros – Exatamente.
A entrevista completa de Assis Medeiros para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.
Acesse: https://soundcloud.com/radioeixo/cumbuca-assis-medeiros?in=radioeixo/sets/cumbuca
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