Programa Clandestino 135 – Joe Arroyo I
Esse é o primeiro de dois programas dedicados ao grande Joe Arroyo. A seguir oferecemos a transcrição dos áudios das falas explicativos do episódio.
Nota 1
Está começando nesse momento mais um Programa Clandestino, música sem documentos, aqui, como sempre, na Rádio o Eixo. Lembramos que o nosso programa clandestino, nessa temporada de 2024, é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura, FAC-DF.
Começamos esse nosso primeiro episódio de dois, dedicados à grande figura do músico colombiano Joe Arroyo. Como tem acontecido em outras ocasiões, vamos dedicar dois programas a essa figura fundamental. É importante lembrar que a gente dedicou dois programas somente a grandíssimas figuras da nossa cultura, como foram o grandíssimo Rubén Bládes, lá do Panamá, e o genial Luís Alberto Spinetta, talvez com Charlie Garcia teríamos conseguido fazer dois programas também, mas com Joe Arroyo vamos fazer dois programas. Alguns de vocês estão se perguntando porque demoramos tanto em fazer o programa especial do Joe Arroyo, se ele é tão fundamental que merece dois programas. Pois bem, Joe Arroyo é uma figura fundamental da música tropical colombiana, da música tropical latino-americana, mas realmente o programa dedicado a ele tinha sido adiado durante muito tempo por um assunto realmente pessoal e agora, por primeira vez e acho última vez no Programa Clandestino, vou falar em primeira pessoa: o Joe Arroyo era para mim o maior compositor colombiano que eu tivesse conhecido, que eu tivesse curtido em primeira pessoa. Tem outros grandíssimos como Lucho Bermúdez, Alejo Duran, sei lá, para nomear só alguns, mas ele ficava na minha memória, tinha um espaço especial na minha memória por lembranças de infância e pela genialidade que ele demonstrava nas composições, nos arranjos e enfim.
Porém, aos poucos foram surgindo acusações de plágio ao Joe Arroyo, uma, duas, três, que a gente não vai trazer nesse nosso programa, mas se encontram facilmente na internet, só botar “Joe Arroyo, plágio” e aparecem várias demonstrações, com a música original e a versão do Joe Arroyo. Sendo demonstrada essa atitude, realmente eu cancelei o Joe Arroyo durante muito tempo, porque depois de comprovar pessoalmente que realmente se trata de versões não creditadas, versões que aparecem nos discos como autoria dele, acabei cancelando o Joe Arroyo, fiquei com muita raiva, me senti muito magoado e nem quis fazer o programa dele, nem quis escutar mais as suas músicas. Mas foi passando o tempo, refletindo sobre, é realmente é uma situação grave, é uma situação bem desconfortável porque eu acho incontestável que se trate de plágios. Mas a qualidade da música, a qualidade dos arranjos, da voz, das versões é tão grande, é tão bem feita, é tão importante para a música colombiana, para a música tropical dos nossos países. A qualidade das suas apresentações ao vivo é tão superior que realmente não dá para simplesmente ignorar ou esquecer essa importantíssima figura.
É um pouco o que acontece, para fazer um paralelo, talvez absurdo, é um pouco o que acontece com Maradona. Ele fez gol com a mão lá contra a Inglaterra, sim, foi a mão de Deus. Isso tira sua grandeza? Em parte, sim, por causa da atitude desonesta. Mas parece que acrescenta um pouco de genialidade, parece que acrescenta um pouco de malandragem à figura dele. Pois bem, eu sempre pensei que essa situação, essa atitude é parecida com o que o Joe fazia, já que tem várias entrevistas nas quais ele é abordado, ele é perguntado sobre a inspiração dele, e ele conta uma história bem romântica e tal de como se inspirou na sua música, quando na verdade tinha pego alguns discos e feito simplesmente uma adaptação.
Então, dito isso, eu decidi fazer o programa do Joe Arroyo e fui escolher as músicas e tem música demais, tem muita produção. Assim, a gente vai começar escutando o primeiro de dois programas dedicados a Álvaro Arroyo. A gente começou escutando a música Suave Bruta, mas não vamos falar quais músicas, são plágio e quais não, o ouvinte que quiser testar, comprovar, conferir é só ir lá no Google e procurar e lá vai ter tudo. A gente começou então escutando a música Suave Bruta, e nesse primeiro bloco vamos escutar algumas músicas dos primeiros anos de Joe Arroyo que foi basicamente junto com o Fruko, figura que já tem aparecido várias vezes nesse programa que vai aparecer ainda mais. Foi junto com a orquestra dele, “Fruko y sus tesos”, que o Joe Arroyo começou e vamos escutar algumas músicas dessa primeira fase, e vocês poderão notar que a voz do Joe Arroyo, que é uma voz espetacular incrível, estava se começando a formar, estava começando a amadurecer. E vamos começar esse nosso primeiro bloco, basicamente escutando músicas dessa primeira fase, do Joe Arroyo junto com o Fruko y sus tesos. É, como sempre, o programa clandestino aqui da Rádio Eixo.
Nota 2
Vamos dando continuidade ao nosso Programa Clandestino, o primeiro de dois episódios dedicados ao grandíssimo Joe Arroyo. Como já falamos, ele começa na orquestra de Fruco y sus tesos, ele que nasceu na cidade de Cartagena, mas foi muito jovem para Barranquilla, cidade do carnaval, cidade talvez mais comercial, com mais possibilidades de encontrar trabalho. Ali ele vai encontrar o Fruko. Na verdade, o que parece, alguém sugeriu escutar um menino muito jovem que estava cantando lá no local, em uma boate, e Fruko chama ele para tocar junto com eles e vão gravar com a famosíssima gravadora Discos Fuentes, que também tem aparecido muito no nosso programa.
Aí ele começa a criar uma voz, começa a criar um nome e rapidamente, seu talento era grande demais, rapidamente monta sua própria orquestra, a orquestra “La verdad”, e começa a gravar suas próprias músicas. Nesse nosso segundo bloco, a gente vai dedicar um pouco de músicas que são associadas com o carnaval. Isso porque o Joe Arroyo, um artista extremamente popular e extremamente original, já que era difícil enquadrar o seu estilo, ele inclusive vai chamar o seu estilo musical de Joeson, na verdade é uma adaptação do Kompas haitiano e outros ritmos caribenhos. Ele, na verdade, pegava várias inspirações, pegava vários ritmos, várias músicas, juntava e fazia uma sua própria versão, então às vezes era enquadrado como Salsa, enquadrado como outros tipos de ritmos colombianos, mas na verdade era uma mistura extremamente original e que realmente olhava muito para o Caribe. Era uma música que funcionava muito bem porque saía um pouco dos padrões da música, especificamente colombiana, mas era muito bem recebida porque era música de matriz caribenha, que funcionava obviamente muito bem na região.
Então, ele participa muito dos carnavais de Barranquilla, uma figura central dos Carnavais de Barranquilla. O Carnaval de Barranquilla tem, entre outros eventos, um evento competitivo, onde se premia à melhor orquestra, o melhor artista, e esse prêmio é chamado o Congo de Ouro. Aí o Joe Arroyo se apresentava para o Congo de Ouro e começou a ganhar o Congo de Ouro consecutivamente, uma e outra vez, ano após ano. Nesse Congo de Ouro, a participação do público era muito importante, se passava em grandes cenários, estádios de futebol. E o Joe Arroyo ganhou tantas vezes o Congo de Ouro que a organização decidiu criar um Super Congo de Ouro só para ele, para ele não participar mais, para deixar os outros artistas participarem disso, para entender a popularidade e a grandeza, a sintonia do público com o Joe Arroyo. Vamos então dedicar esse nosso segundo bloco do primeiro programa dedicado ao Joe Arroyo, para escutar algumas músicas que são associadas diretamente com o carnaval. Ou ele compôs essas músicas para ser tocadas no carnaval, ou então são músicas que falam explicitamente no carnaval. Então vamos escutar essas músicas que são alguns ritmos tradicionais que se tocam no carnaval, e outros então são músicas que falam no carnaval, como precisamente a música que vai fechar esse nosso bloco, que é precisamente a música chamada Carnaval, no qual ele vai falar precisamente do final do carnaval, do que acontece no carnaval, e vai nomear o Joselito Carnaval, que é um personagem fundamental lá do carnaval de Barranquilla, que é meio que uma metáfora dessa época do carnaval, Joselito Carnaval morre no último dia de carnaval, e todo mundo vai no enterro dele, no velório dele, os homens fantasiados de viúvas vão lá chorar a morte de Joselito Carnaval.
Nota 3
Vamos dando continuidade ao nosso primeiro episódio dedicado ao grandíssimo Joe Arroyo. Se no bloco anterior escutamos algumas músicas mais associadas com o Carnaval, vamos deixar esse nosso último bloco para escutar algumas músicas que demonstram a versatilidade da proposta artística do Joe Arroyo.
Joe Arroyo estava sempre rodeado de grandes artistas, de grandes músicos que acompanhavam ele, especialmente Chelito de Castro, especialmente conhecido, e a orquestra dele não era especialmente grande, não era uma grande orquestra, não estamos falando de uma big band, mas realmente se caracterizava pelos arranjos muito bem conseguidos, pela voz do Joe Arroyo que realmente era muito particular, um som muito particular, mas muito poderoso, e por algumas características que distinguiam totalmente a sua proposta.
Entre elas, um gritinho particular, uma forma de gritar particular, um efeito da voz que ele fazia que imitava um cavalo, um cavalinho, vocês vão começar a escutar nesse último bloco, que era a marca particular, a marca distintiva do Joe Arroyo e também os seus arranjos e também a versatilidade da sua proposta. Ele passava facilmente de um gênero ao outro, e tinha sempre uma marca particular. A gente vai começar escutando esse terceiro, o último bloco, uma música que tem vários gêneros variados e onde realmente a gente vai ver influência de diferentes gêneros. Vai aparecer uma música que parece mais como uma salsa, como por exemplo “Con Gusto y Gana” e “Ban Ban”, que vai fechar o nosso bloco.
Mas tem outras músicas onde aparece a influência claramente da soca caribenha, mas também da champeta da sua cidade, de Cartagena, onde aparecem alguns arranjos e alguns efeitos que estão mais relacionados com a champeta, e criam então um mosaico que realmente é um passeio, é uma turnê, é uma viagem por todos os ritmos caribenhos, por todas as influências caribenhas. Talvez por isso ele era tão popular, talvez por isso ele tem mudando o ouvido das pessoas, dos ouvintes, os colombianos, que conseguiam se identificar com ritmos que não reconheciam necessariamente como próprios. Talvez por isso, por essa amálgama que ele criava de ritmos caribenhos, era a sua popularidade e claramente também pela qualidade das suas músicas.
Isso a vez explica porque ele era tão particular, tão original e tão amado, tanto assim que como falamos no nosso primeiro bloco, com a nossa primeira entrada, as inúmeras acusações de plagio, vocês vão ver, os seguidores deles, os fãs deles simplesmente fazem malabarismos intelectuais para negar esses casos de plágio, para diminuir a importância ou simplesmente para falar que são versões e que simplesmente quem faz melhor a música e quem tem que fazer a música. Basicamente a mensagem é: tanto faz, se ele copia as músicas, as músicas dele são melhores, vamos curtir. Isso vai mostrar como ele, que já nos deixou, foi morar no bairro de cima no ano de 2011, é praticamente um consenso entre os conteúdos de música entre os dançarinos, entre quem ama a música caribenha e a música tropical. Então, uma figura complexa, uma figura por vez ambígua, mas que com certeza tem um talento extraordinário, é, como sempre, o nosso Programa Clandestino aqui da Rádio Eixo.
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