Dudu Maia é bandolinista, compositor e produtor musical. Apresenta-se ao lado de nomes consagrados da música brasileira e internacional.
Desde 2004, Dudu viaja com frequência em turnês internacionais e, a partir de 2012, passou a atuar como bandolinista do Trio Brasileiro, que também conta com o violonista Douglas Lora e o percussionista Alexandre Lora.
O Trio, que tem quatro álbuns lançados, já conquistou grande reconhecimento do público e da crítica internacional. Seu mais recente trabalho, Rosa dos Ventos (2017), em colaboração com a premiada clarinetista Anat Cohen, foi indicado ao 60th Annual Grammy Awards (EUA) na categoria Melhor Álbum de World Music.
Dudu também é professor, inclusive elaborou uma metodologia própria para o ensino do bandolim, e é coautor do Manual do Choro, método pioneiro para quem quer se aprofundar na linguagem do choro.
Como produtor musical, também se envolve com artistas muito interessantes.
Paola Antony – Dudu, hoje eu fiquei ouvindo, você sabe que eu conheço seu trabalho há um tempo, mas eu fiquei ouvindo seus trabalhos e pensando: "Caramba, como o Dudu é eclético!". Há o trabalho com o Jacob do Bandolim, que foi seu último, que está lindo. Depois você vem com o Duo Alvenaria, que já é outra coisa, bem diferente. O trabalho com a Anat Cohen, aquele vídeo incrível que você fez, e tantos outros, como você é versátil!
Dudu Maia – Pois é, eu gosto. Eu gosto de estar aberto. Houve um momento na minha vida em que eu tentei até me afastar um pouco do choro, porque, o que acontece? Eu estava já atuando na área de produção musical, tendo todas essas possibilidades que me encantam muito, poder me dar essa liberdade, mas meu lance estava sempre associado à música acústica e ao choro, que eu amo, que é minha vida e que eu continuo fazendo com muito afinco, mas teve um momento em que eu me afastei por alguns anos, porque quis tirar esse estigma, mas é o que eu amo, a música acústica, o bandolim brasileiro.
Paola, eu comecei tocando rock, moleque ainda, comecei tocando guitarra. Tocava metal, cabeludo, com a guitarra. O bandolim e a música brasileira vieram mais forte para mim mais tarde, já com 21 anos de idade, na universidade. Eu gosto de me permitir alçar voo por outras searas.
Esse vídeo de que você falou chama-se Quarantine Love Call. Eu estava superpreocupado nesse dia, porque havia as manifestações pelo Brasil pró-ditadura, e as pessoas do outro lado estavam querendo se manifestar contra aquilo e não estavam podendo ir às ruas. Foi na véspera de um dia em que a gente sabia que o pessoal das torcidas organizadas de São Paulo ia para as ruas também fazer manifestação pró-democracia, você deve se lembrar desse evento. Graças a Deus, não houve tensões que causassem maiores danos, mas eu fiquei muito preocupado, eu senti um aperto no peito terrível, não sabia o que poderia acontecer, foi quando montei o vídeo e fiz a música. Era mais ou menos a expressão de um sentimento. Ali há uma história e há distorção no bandolim, distorção como numa guitarra de rock. Foi a primeira vez que usei esse recurso e achei que o resultado ficou bem legal.
Paola Antony – Dudu, ao mesmo tempo que você promove essa viagem, que vai pelo eletrônico, também solta um trabalho que vai na raiz, que é um tributo a Jacob do Bandolim.
Dudu Maia – Pois é, esse disco foi um tributo ao centenário de Jacob. Nós gravamos, na verdade, para lançar em 2018, mas houve uma sucessão de eventos e acabou que o disco não foi lançado. A gente pensou, "poxa, esse disco é muito bom, ficou muito bem feito, soa bem". Entrou a pandemia e eu tive essa ideia. Estou com o material aqui, pronto, vou lançar. Fui atrás dos direitos autorais, vi que era viável, então nós fizemos. Tive a feliz conexão com a Choro Music e lançamos também em formato play along, ou seja, você pode tocar com o disco, com a base do disco e com as partituras; os playbacks para você tocar junto. Então, foi muito legal.
O Jacob, Paola, é um cara muito importante para a música brasileira, é uma coisa extraordinária. Antes de tudo, ele foi um colecionador, foi um cara que garimpou muito o acervo da produção musical brasileira. Ainda jovem, ele era conhecido como menino velho, já tinha um baú, um acervo enorme. Era um superpesquisador, um investigador, quase. Por exemplo, as obras de Ernesto Nazareth, entre tantas outras, foi ele que compilou. Ele foi um divisor de águas na música brasileira. Ele falou é assim que toca isso, aqui estão as referências. Ele montou um conjunto que se chama Regional de Choro, conjunto da época de ouro, que também levou a coisa para outro patamar. Esse grupo tão ativo, até hoje em dia os caras gravam com os cantores atuais, jovens, uma coisa que realmente repercutiu, continuou. A qualidade de performance dele, que ele trouxe para o instrumento, ele foi superinovador. Uma coisa que o Hamilton de Holanda propõe hoje, uma nova abordagem para esse instrumento, é o que o Jacob fez e até hoje é top, se comparado com todos os performers que a gente tem hoje em dia, porque a gente sabe que, na produção cultural e artística, ninguém começa mais do zero. Essa molecada que está vindo agora já começa pelo que a gente está deixando. Dá esse pezinho pra galera. Mas o que Jacob fez até hoje é de um nível extraordinário. É impossível você tocar o bandolim brasileiro sem investigar aquilo ali.
Paola Antony - Dudu, vamos percorrer um pouco suas produções, pelo menos as mais recentes, já que são muitas?
Esse seu trabalho com o Trio Brasileiro é um trabalho especial também, não é, Dudu?
Dudu Maia – É. O Trio Brasileiro somos eu, o Douglas Lora e o Alexandre Lora. Nós nos conhecemos no sul da Bahia, em Caraíva, em 2003, e rolou uma amizade, uma musicalidade muito rápida entre nós. Sabe quando você faz um som com uma pessoa e fala, cara, isso é uma conversa de alma. Viramos irmãos naquele momento. Junto deles depois se formou a banda Caraivana, da qual já não faço mais parte, mas que foi muito bacana, uma experiência extraordinária. Depois disso, o que aconteceu foi o seguinte, eu já estava nos Estados Unidos com minha carreira rolando bem, e o Douglas Lora também. Nós já estávamos nos encontrando por aquelas bandas e unimos as forças e conseguimos levar o Alexandre Lora, que é irmão do Douglas, um grande percussionista, um cara extraordinário. Nós nos juntamos e começamos a trabalhar lá mesmo, anualmente. A gente chegava a ir três vezes por ano e, desde então, desde 2011, nos últimos dez anos, estamos trabalhando lá como trio, constantemente. Todos os nossos trabalhos são lançados lá, as nossas turnês são feitas lá e a coisa começou a voltar para o Brasil. De pouco tempo para cá, está acontecendo mais aqui. Aliado a isso, encontramos a Anat Cohen, que é uma clarinetista israelense extraordinária. Hoje já são quatro discos, dois deles com a Anat, e nós estamos com um quinto disco para ser lançado em breve. Nós gravamos nos Estados Unidos, na estrada, contando com a participação de pessoas que a gente conhece, afinal são mais de dez anos, então, já existe todo um vínculo afetivo, inclusive familiar, com pessoas e músicos de lá.
Com a Anat, a coisa maravilhosa foi o segundo disco que a gente lançou, Rosa dos Ventos, com uma estética mais cinemática; a gente está cada vez caminhando mais nessa direção. O que acontece, Paola, essa música, o choro e a música instrumental brasileira, ela chama muito para o lado do virtuosismo, velocidade, performance, execução, mas a gente vai amadurecendo e já existe outra coisa que a gente quer dizer, isso já não basta. A gente quer se expressar, né? O disco do Trio Brasileiro, que se chama O Caminho do Meio, que é um disco pelo qual a gente tem muito carinho também, nele a gente já começou a se permitir abrir essa estética e começou a ir cada vez mais para uma coisa de climão, de ambiência, atmosfera, uma outra expressão.
A entrevista completa de Dudu Maia para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.
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