Fernanda Cabral nasceu em Brasília, mas teve a oportunidade de viver em diferentes cidades. Tem uma história de cigania, como diz Chico César em sua música Estado de Poesia. Brasília, Paraíba, Espanha, entre outros lugares.
Nessas idas e vindas, Fernanda desenvolveu uma trajetória artística inspiradora e comprometida. Dessa caminhada, por enquanto, nos trouxe alguns espetáculos teatrais, participações musicais, dois discos autorais: Praianos e Tatuagem Zen, este lançado em 2019. Um trabalho sensível e repleto de referências à natureza.
Também nessa trajetória, o encontro com pessoas muito especiais, como o próprio Chico César, entre outros, que fazem parte de sua história e de suas músicas, o que ela irá nos contar hoje.
Paola Antony – Fernanda, você é de Brasília. Foi aqui que você se descobriu artista?
Fernanda Cabral – Aqui também. Eu passei minha infância entre Brasília e João Pessoa, porque minha mãe me teve com 19 anos, virou professora universitária na UFPB e foi para lá. Ela é documentarista, fotógrafa, saxofonista e, desde pequena, eu tive muita relação com a arte. Eu ficava indo e vindo e, como ela viajava muito para fazer documentários, eu ficava com a vó e com ela, até a adolescência, quando ela foi fazer um doutorado na USP e morei em São Paulo por dois anos.
Foi quando comecei a fazer canto de forma mais séria e compor, com 15 anos, e depois já voltei para fazer a UnB, em Brasília. Fiz Artes Cênicas, sou atriz também, fui morar em Madri e desenvolvi toda minha carreira lá, como cantora, compositora e atriz.
Paola Antony – Então, desde cedo, você manifesta essa vontade de se expressar, não é? Ou é de aprender e a expressão veio depois?
Fernanda Cabral – É um pouco junto. Não sei se, por ser filha de uma artista, essa questão da expressão sempre foi muito natural em mim, eu precisava dançar, porque por trás existia a necessidade de uma expressão, de uma emoção, de uma forma de ver o mundo. Acho que o artista tem essa necessidade de falar como ele vê o mundo interior e como vê o mundo ao redor. Acho que quem é artista, de certa forma, tem isso desde pequeno.
Paola Antony – Fernanda, essa sua passagem por João Pessoa a ligou a pessoas bem legais de lá, hein? Chico César, Chico Correa. Esses contatos foram feitos na época da sua adolescência ou depois de sua estada na Espanha?
Fernanda Cabral – O contato com Chico César vem através da minha mãe, porque ela é saxofonista e tocava com ele. Minha mãe estava sempre em casa com os músicos, tanto em João Pessoa como em São Paulo, quando eu era adolescente. Chico estava sempre ali. Chico foi aluno da minha mãe na UFPB, os primeiros filmes dela em Super-8 ele estava com ela, filmando. Tem foto dele, magrinho, com 18, 19 anos, e ele sempre foi essa figura, esse poeta, esse ser inquieto, político. Mas nosso encontro se deu trabalhando em Madri, num mesmo projeto de um “cantautor” muito conhecido em Madri, Pedro Guerra, que fez um trabalho muito bonito, um álbum que se chama Gente que Mueve su Casa. Ele chamou cantautores do mundo inteiro. Do Brasil chamou Lenine e Chico César, do México, Julieta Venegas e, lá em Madri, ele me chamou, entre outros, e a gente se reencontrou trabalhando.
A partir daí ele me convidou para fazer com ele um show em Lisboa e eu, que já estava compondo, mostrei a música que tinha feito, que não tinha letra, que foi nossa primeira parceria, Hora H dia D, e, no dia seguinte, ele me mandou a letra; ele adorou a música. Quando fui cantar essa música com ele em Portugal, em Lisboa, ele me mandou a letra de Praianos, que terminou dando título ao meu primeiro álbum. Lá eu compus a letra e ele gostou tanto que falou: "Vamos tocar Praianos?" E eu disse: "Mas eu acabei de compor, faz meia hora, não sei se vou saber tocar".
Paola Antony – Foi nesses lugares em que você esteve morando que gravou o primeiro disco, mas o segundo, Tatuagem Zen, você já estava há um tempo no Brasil, em Brasília, né? O que estar no Brasil lhe trouxe e que você levou para o seu trabalho?
Fernanda Cabral – Eu demorei vários anos para gravar o primeiro disco, foi um processo lento de feitura. Gravei em Madri, João Pessoa, São Paulo. Em 2012 decidi estar mais no Brasil e quis voltar para o cerrado, inclusive, nesse novo disco, há uma canção chamada Cerrado, que fala muito da minha relação com a terra, das minhas raízes, então, é um disco que, se o outro fala do mar, esse fala da terra. Foi muito importante estar aqui.
Paola Antony – Sobre seu mais recente disco, Tatuagem Zen, eu percebi, ou entendi, que sua relação com a natureza acabou dando o tom da criação.
Fernanda Cabral – Sempre tive, desde pequena, conexão com a natureza e, nesse disco, ficou mais forte isso. Fiquei feliz quando escutei sua compreensão de que eu consigo, de certa forma, traduzir meu sentimento junto com a relação com a natureza.
A entrevista completa de Fernanda Cabral para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.
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