MARTINS PENA
PROGRAMA 1
Roteiro
A RADIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA
BG “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá)
Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, hoje tem início o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou Tiago de Carvalho e o nosso primeiro autor da série é “MARTINS PENA”. O elenco do projeto EIXOENCENA é formado por mim e pelas atrizes KARLA CALASANS, LÍLIAN ALENCAR, e grande elenco. Neste primeiro programa temos uma cena da peça o “O Juiz de Paz na Roça”.
BG - “Tico tico no fubá” de Zequinha de Abreu começa a tocar... com a Orquestra Juvenil da Bahia
Narrador (rádio novela) – A peça “O juiz de paz na roça” é considerada a primeira grande comédia brasileira. Aqui Martins Pena vislumbraria um cenário de Brasil, que é um verdadeiro “Tico tico no fubá”. Mas vamos a nossa rádio teatro e a uma cena engraçadíssima. Neste momento a personagem do seu juiz de paz incomodado com o barulho daquela bicharada na roça diz ao escrivão...
JUIZ — Sr. Escrivão, faça o favor de ler.
ESCRIVÃO, (lendo) — Diz Inácio José, natural desta freguesia e casado com Josefa, sua mulher na face da Igreja, que precisa que Vossa Senhoria mande a Gregório degradado para fora da terra, pois teve o atrevimento de dar uma UMMMMMMBIIIIIGAAAAADAA em sua mulher,
ESCRIVÃO ... na encruzilhada do Pau-Grande,
ESCRIVÃO ...que quase a fez abortar. Da qual umbigada fez cair a dita sua mulher de pernas para o ar. Portanto, pede a Vossa Senhoria que mande o dito Gregório degredado para O EXÍLIO EM Angola
ESCRIVÃO Espera receber MERCÊ, ou seja aprovação...
Narrador (rádio novela) – e então o Juiz de Paz dirige-se ao senhor Gregório, um lavrador, e na frente do senhor Gregório está dona Josefa, uma lavradora cheia de ódio, e ao lado de Dona Josefa, seu marido, mais um lavrador, este cheio do ódio da sua mulher. Sua mulher a que levou a umbigada, pasmem ouvintes, sabem o que era uma “Umbigada” no séc. XIX, lá vem o Juiz:
JUIZ— É verdade, Sr. Gregório, que o senhor deu uma umbigada nesta senhora?
GREGÓRIO — É mentira, Sr. Juiz de Paz, eu não dou umbigadas em bruxas.
JOSEFA — Bruxa é a Maaaaaraaaaaafoooonnaaaaa de tua mulher, malcriado! Já não se lembra que me deu uma umbigada, e que me deixou uma marca roxa na barriga? Se o senhor quer ver seu Juiz, posso mostrar a marca roxa.
JUIZ — Nada, nada, não é preciso; eu acredito na senhora, valha-me Deus...
GREGÓRIO – o Juiz não quer ver a mancha, pois esta barriga deve ser muito feia... (risos)
JOSEFA — Sr. Juiz, não é a primeira umbigada que este homem me dá; eu é que não tenho querido contar a meu marido.
JUIZ — Está bom, senhora, sossegue Sr. Inácio José, deixe-se destas asneiras, dar umbigadas não é crime classificado no Código Criminal. Sr. Gregório, faça o favor de não dar mais umbigadas na senhora; quando não, arrumo-lhe com as leis às costas e meto-o na cadeia. Queiram-se retirar.
Narrador (rádio novela)- então o senhor Inácio José, o lavrador, tomado de raiva do homem que umbigara sua mulher diz e promete ao outro um duelo, e tem mais, que este pagará com a dor...
BG “Tico tico no fubá” de Zequinha de Abreu com a Orquestra Juvenil da Bahia
TIAGO
A comédia “O Juiz de Paz na roça” de Martins Pena conta o enredo de um juiz safadão e moralmente muito corrupto. É este juiz quem decide os rumos éticos e legais de um vilarejo rural encrustrado no interior do Brasil. Encenada pela Companhia de Teatro do ator João Caetano em 1838, a peça é definida como uma comédia voltada para o ridículo. Pergunta aos queridos ouvintes, e o que ocorrerá no restante das cenas? Leiam leiam e leiam...
CANTO DOS TRÊS ATORES (1 SÓ VEZ)
Em cima daquele morro
Há um pé de ananás;
Não há homem neste mundo
Como o nosso Juiz de paz.
Se me dás o que comê,
Se me dás o que bebê,
E ainda se me pagas
Vou lá morar com você.
Risadas risadas risadas dos atores que dizem
ATORES - “Este juiz de paz é o mais nobre homem brasileiro”
BG “Valsa do Minuto" de fundo de Frederic Chopin
KARLA
A música que vocês ouvem ao fundo é de Frederic Chopin, da mesma época de nosso dramaturgo: o pai da comédia brasileira, o senhor Luís Carlos Martins Pena. Homem de talento cômico incomum, que entre 1830 e 1850 produziu mais de vinte comédias, um dos fundadores da nossa dramaturgia.
LÍLIAN
O funcionário público Martins Pena, adido cultural do Brasil em Londres, filho de uma típica família carioca de poucas posse, hoje não só figura no cenário dos maiores dramaturgos brasileiros, como é a fonte primordial da nossa literatura do séc. XIX. Herdeiro de Plauto, de Gil Vicente e de Moliére, Martins Pena se tornou o nosso mais importante escritor da Baixa Comédia.
TIAGO
Divertiu o Brasil em pleno cenário romântico da nossa arte e cultura. Criador da tradição do Quid Pro Cod (quiprocó), as confusões da cidade e do campo. Martins Pena que dá nome a uma das principais salas de teatro da capital federal, Brasília, é o fundador das comédias farsescas que fizeram dele o homem que primeiro riu dos tipos e costumes de um Brasil que nascia após a Independência.
KARLA
O juiz corrupto, a namoradeira, o espertalhão, o menino religioso e o jovem profano, o pai tradicional, e a mãe submissa, as festas, os bailes, as dissimulações, as crises morais, o campo e a cidade, as comparações insidiosas, a sutil crítica ao falso moralismo eram o retrato do Brasil Escravocrata em que viveu.
LÍLIAN
Foi com esse nosso primeiro teatro já como dramaturgia de nossa crise social e diferenças, que Martins Pena trouxe ao palco a cena nacional, e se debruçou e se deliciou para fazer a Corte dos Pedros rir como nunca. Suas personagens podiam elegantemente dizer: um “Vossa Mercê” vultuoso nobre, ou nos trazer um palavrão do século XIX como “Marafona” sabem o que significa ser uma marafona? Uma puta talvez, ou uma mulher sem modos e sem jeito...
TIAGO
E assim encerramos o primeiro episódio na nossa série: o Teatro de Martins Pena. Na próxima semana teremos uma cena da peça “O Noviço”. Agradecemos o prestígio e a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.
KARLA
O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e
OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”
A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA
BG “Mambembe” de Chico Buarque na versão original
Para escutar o episódio 1 do EixoEncena acesse o link: https://soundcloud.com/radioeixo/pgr-1-juiz-de-paz-na-roca-eixoencena-martins-pena?in=radioeixo/sets/eixoencena
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