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Paola Antony

Júnior Ferreira


Aqui está mais um grande artista do Distrito Federal, Júnior Ferreira.

Sanfoneiro daqueles, Júnior Ferreira começou a tocar aos 10 anos de idade. É baiano, mas mora em Brasília desde criança, cidade que considera o celeiro da música instrumental brasileira. Juninho Ferreira se apresenta com grandes nomes da música brasiliense e nacional. Com seu acordeon, já passou por países da África, Europa e América do Sul.

Júnior tem também um trabalho autoral que está registrado no disco Casa de Ferreira, seu disco de estreia, em que assina os arranjos e a direção musical, e é lindo!

Casa de Ferreira é um reflexo da trajetória do músico, onde mostra suas parcerias, composições próprias e releituras trazidas na bagagem ao longo do caminho. Contou ainda com um time de supermúsicos durante as gravações e participações especiais da cantora espanhola Irene Atienza e do mestre dos 8 baixos Luizinho Calixto.

Paola Antony – Oi, Juninho, passe para dentro, vem tomar um cafezinho (risos). Vamos começar falando da música Casa de Ferreira? Eu simplesmente não consigo parar de ouvir e, pelo que eu entendo, é um pouco da sua história, não é?

Júnior Ferreira – É. Quando eu fui fazer o disco, estava muito em contato com o Túlio Borges, que havia gravado o disco dele, Batente de Pau de Casarão, estávamos circulando o país com o show e ficamos muito próximos. Eu falei: "Túlio, vou gravar um disco que vai se chamar Casa de Ferreira". E ele: "Nossa, que legal, esse nome é muito bom. Acho que ele ficou com aquilo e foi amadurecendo. Num belo dia, eu falei: "Hoje vai ter uma sessão de gravação", e ele respondeu: "Beleza, vou aparecer lá". Ele chegou, pegou o violão no intervalo e falou: Juninho, eu tenho uma Casa de Ferreira aqui para você. Começou a cantar e trouxe na música as impressões dele sobre o que é essa casa de Ferreira e eu, essa trajetória, eu vim da Bahia, né? Cheguei a Brasília com 11 anos e ela foi pontuando e foi uma alegria só.

Paola Antony – É verdade que seu avô também puxava um folezinho?

Júnior Ferreira – Tocava. Eu não cheguei a conhecer meu avô, mas ele puxava um folezinho, sim. Já meu avô paterno tocava pandeiro, era puxador de coco. Lá em casa, só eu, entre os irmãos, que fui para o lado da música.

Paola Antony – E como foi isso?

Júnior Ferreira – Olha só, um dia, lá em casa, apareceu um piano de brinquedo e eu não desgrudei dele. A partir disso, todo mundo foi percebendo que eu tirava um som e foi me dando outros brinquedos musicais. Até que um dia, chegou uma flauta doce e ela virou minha companheira, eu não desgrudava dessa flauta e já comecei a tocar várias outras coisas, porque com a flauta eu já conseguia fazer mais notas, que o piano não tinha, os sustenidos e os bemóis.

Depois me mudei para Ilhéus, para morar com minha mãe, meus pais se separaram, e em Ilhéus eu comecei a tocar mais, já com 13, 14 anos, mais ou menos. Comprei um teclado primeiro e comecei a tocar com os amigos em banda de tudo que você imaginar, muitas bandas de reggae, de forró, e a sanfona foi por causa do timbre mesmo, da sonoridade que eu ouvia nas gravações de Luiz Gonzaga, de Dominguinhos, Sivuca, dos mestres, né? E, aí, eu fui buscar aquele som.

Agora, o compor já é uma coisa mais acadêmica. Eu não tinha essa coisa de compor, tinha até uma dificuldade, uma limitação. Quando entrei na UnB, fui fazer umas aulas de composição e conheci um professor que eu adoro, sou fã dele, aliás, vou mandar um abraço para ele, que é o Sérgio Nogueira, da composição, do Departamento de Música, que virou essa chave e me deu o start. Ele foi ótimo, me ajudou muito e, sempre que posso, mando um "alô" para ele, e a gente conversa. Começou por aí, mas hoje em dia a coisa já caminhou e eu já consigo fazer direto no instrumento. Pegar a sanfona, ter uma ideia, sair tocando e: ah, isso aqui tá legal. Antes era um sacrifício. Agora, as letras, os parceiros que fazem. Nunca me arrisquei, nunca nem tentei fazer letra. Eu gosto também, você faz com mais gente, mais longe do que sozinho.

Paola Antony – Quem são seus parceiros? Você falou do Túlio, mas quem mais?

Júnior Ferreira – Isso, o Túlio Borges, o Climério, a gente tem feito algumas coisas, não o que está no disco, eu gravei músicas dele, a gente tem feito parcerias; e o Clodo, com quem tenho feito muitas coisas e, nos últimos tempos, o Alberto Salgado, começamos a fazer algumas composições, enfim, eu também vou perturbando-os: "Ó, vou te mandar uma melodia". "Pode mandar". "Vamos fazer juntos".

Paola Antony – Fale-me um pouco de como foi pensar esse disco. De onde surge a vontade de fazer um disco?

Júnior Ferreira – Eu acho que, como a gente está sempre compondo, criando, daí a pouco, quando vê, tem algumas músicas gravadas e, remexendo, você pensa: pô já estou com algumas músicas, acho que está na hora de registrar em um disco. Eu também tinha essa coisa de fazer um disco. Isso hoje em dia já está um pouco menos, há o EP com menos músicas, já há outros caminhos. Eu pensava que precisava fazer um disco com as coisas que eu penso, escrever os arranjos, escolher os músicos, era uma vontade antiga, um sonho antigo que eu tinha.

Paola Antony – Então, os arranjos são todos seus?

Júnior Ferreira – Sim, todos os arranjos. Escrevi até uns arranjos de metais, que eu nunca tinha feito, estreando.

Paola Antony – Há alguma música desse disco que lhe traz uma memória da época em que você estava gravando ou compondo?

Júnior Ferreira – Na verdade, todas as músicas têm uma história, um carinho especial, mas eu gosto de Dona Fia, gosto muito, Casa de Ferreira, Assovio de Cobra, que está no primeiro disco com o Victor, e neste eu fiz um arranjo para banda, metais. São várias historinhas.

Paola AntonyMais que Bem Querer é linda também, hein?

Júnior Ferreira – Essa é uma que eu mandei para a Ana Reis, eu tinha uma melodia em casa e falei: "Ana, tenho uma música aqui, vamos fazer?". E ela: "Manda, vamos fazer". Eu mandei, passou um tempão, já nem lembrava, estava na Bahia, em Caraíva, no verão, quando chegou o e-mail: "Vê, aí, se ficou bom". "Puxa, que beleza, um presente, Ana Reis". Há a participação da Irene Atienza, amiga espanhola que mora em São Paulo há muitos anos, querida amiga e que conheci em Caraíva também. A gente sempre vai passar o verão lá e vai toda essa turma. A gente se encontra sempre, vai quase todo ano, faz som, toca e estamos sempre juntos.


A entrevista completa de Júnior Ferreira para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio eixo.



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