Mandalla’s Band é um power trio de blues, jazz e folk de Brasília composto por Thaise Mandalla no vocal e nas guitarras, André Lourenço no contrabaixo/samples e Marco Guedes na bateria/samples.
Criada em 2017 por Thaise Mandalla, que é também a compositora das canções, passou por algumas formações, circulou pelos principais palcos e festivais de Brasília e hoje conta com a presença desses grandes músicos citados. Músicos que têm também uma história importante para a cena musical do Distrito Federal.
Em 2018 a Mandalla’s Band lançou seu primeiro material audiovisual, um EP de quatro faixas mais uma faixa bônus gravada ao vivo, no Clube do Choro de Brasília. Há ainda dois singles que contaram com videoclipe e com a participação de Milton Guedes, no sax e na gaita. Recentemente lançaram outras canções.
Paola Antony – Minha primeira curiosidade é saber por que a escolha de ser banda. Já fiz mais de 40 entrevistas no Cumbuca e essa é a primeira com banda. Por que banda, e não um trabalho solo com músicos convidados?
Thaise Mandalla – É uma pergunta interessante, porque me leva para o começo do projeto, de onde eu vim. Minha trajetória sempre foi por meio de bandas e confesso que tenho um romantismo pelo formato banda, acredito que a banda seja mais potente no sentido da parceria, que não é uma coisa mecânica. Eu passei pelo processo de chamar músicos itinerantes, digamos assim. Tocavam em três, quatro shows e via que não era meu caminho. Para a minha música funcionar, eu tenho de ter afinidade, ela precisa de um diálogo acurado, de pessoas que estejam entendendo que momento é esse da minha vida, então, isso só é possível por meio de um grupo, um bando, mais que banda (risos).
Marco Guedes – Realmente, acompanhar músicos é bem diferente do que ter uma banda, porque, com outros músicos, você pega a coisa pronta, minha música é assim, você toca assim. Já com uma banda é diferente, porque há mais criatividade. A gente se entende melhor e fica mais sintonizado. A Mandalla sempre tem umas coisas interessantíssimas para mostrar, e a gente desenvolve. É superinteressante essa química da gente.
Paola Antony – André, há como definir o estilo da banda? É uma banda de blues?
André Lourenço – É aquele negócio, eu acho que a gente não consegue definir um estilo só. Nossas influências são muito diversificadas e bem diferentes. Eu acho que a gente não consegue colocar um rótulo de banda de blues. O último lançamento, Cascas Artificiais, puxa um pouco para o blues, mas o próximo lançamento, o que vai ser? Acho meio difícil bater o martelo em um estilo. Por outro lado, sim, dá para dizer que o blues está em porcentagem maior.
Paola Antony – Mandalla, entre suas músicas, escolha uma para a gente, por favor. Fale dela.
Thaise Mandalla – Esperança é uma música que, quando eu estava em casa, por causa da pandemia, sexta-feira à noite, com toda disposição e vontade de estar devaneando pela rua, mas estava dentro de casa, e entrou uma esperança, aquele bichinho verde, e eu fiquei supertocada com aquela visita, que foi uma companhia. Ela começou a andar pela casa, andou pelo meu quadro verde, eu digo isso na música. Então, o começo da música é uma narrativa do trajeto desse bicho dentro da minha casa, que, por sinal, ficou por três dias. O engraçado é que eu começo, dizendo: "um gafanhoto veio me dizer", porque eu não lembrava que o nome dele era esperança. Chamei de gafanhoto, chamei de louva-deus na música e, para homenagear o nome correto, dei à música o nome de esperança, mas, no refrão, veio o engajamento político sobre a temática feminista. As coisas acontecem e depois é que eu entendo o que aconteceu e vejo o significado disso. A letra do refrão diz: "Ao escuro de quem vê, ao absurdo de se crer. Ao abuso do poder, já me cansei de perceber". Na repetição, eu troco a última frase de “já”, por "não me cansei de perceber", que claramente, depois, analisando a letra, vi que foi uma coisa bem de inspiração. Eu observo que estou falando do nosso movimento enquanto mulheres e da defesa do nosso espaço de fala, do espaço das nossas vontades e de quando a gente não deve e não pode se resignar ao que nos é dado de acordo com a história, o histórico da nossa sociedade. Eu estou muito entusiasmada com essa música, por ter esse engajamento que conversa de mulher para mulher.
Paola Antony – Olha só, legal demais você ter tocado nesse assunto, eu gosto dessas opiniões.
Thaise Mandalla – É importante falar, porque nós três, nós passamos por algumas formações, e eles viram e vivenciaram esse processo de crítica ou de não conseguir lidar com o fato de uma mulher estar à frente e dizer o que vai ou não ser feito, como deve ser feito. Eles vivenciaram isso e eu quero sempre dizer como eles são parceiros, da sorte que tenho, porque sei que é sorte, é muito da batalha, mas também é sorte, porque poderiam ser pessoas..., como eu passei a vida inteira lidando com pessoas que não apoiaram, que queriam diminuir, que queriam competir com o espaço, e eles são realmente uma alavanca para mim. Eu vejo que não é demagogia, sabe? Eles estão com a alma mesmo. Essas parcerias são muito ímpares. São tão ímpares que a gente chegou ao formato de nós três (risos), que é o formato que contempla a nossa verdade. A gente se basta, a gente se ajuda, a gente se resolve e somos superparceiros assim.
Uma coisa que eu queria falar, que o André bem falou mais cedo, é que nós, mulheres, temos de estar sempre mostrando serviço ou fazendo melhor do que um homem faria para podermos ser consideradas boas o suficiente, acho que também está muito na gente, no nosso posicionamento enquanto mulheres, de a gente se tirar desse lugar. Lembrar que ninguém é perfeito, que nenhum músico, cantor, homem nasceu pronto ou, desde sempre, na sua carreira, apresentou só exímios trabalhos. A gente tem de se tirar dessa cobrança que nos é colocada, de que a gente tem de ser perfeita, que a gente não pode ter falhas. Como instrumentista, eu, por exemplo, tocando violão, coloquei homens para executar essa função por me colocar nesse lugar de: ah, ele vai fazer melhor que eu, eu não sei fazer tão bem. Eu acho que é nosso papel também se colocar no lugar de: olha a minha verdade, é isso que eu tenho para mostrar. Não vou dizer que sou plenamente satisfeita com a minha execução enquanto instrumentista, mas isso não tira meu mérito. Isso me coloca, sim, no lugar de, apesar de saber que sou imperfeita, estou trazendo a minha verdade. Quem não gostar que não acompanhe, que não escute, é um direito de todos para com todos. Mas quem gostar vem junto, vamos trocar ideias e parar de se cobrar, a gente não precisa disso.
A entrevista completa de Mandalla's Band para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.
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