Marcus Moraes é bacharel em violão pela Universidade de Brasília, guitarrista, compositor, produtor musical e tem 6 discos solo lançados. Além do trabalho autoral, Marcus participa, de forma ativa, do cenário da música independente produzida em Brasília em gravações e shows de artistas locais. Marcus Moraes é ainda integrante na banda de rock instrumental Passo Largo e mantém algumas parcerias próximas e lindas, entre elas, com o gaitista Pablo Fagundes e o saxofonista Esdras Nogueira, e, para completar, é muito gente fina.
Paola Antony – Marcus Moraes, sabe que, ao longo dessa minha produção no Cumbuca, tenho ouvido muito falar de você? Não foi uma nem duas vezes.
Marcus Moraes – Ah é? Nossa, maior carinho por todo mundo, independentemente de trabalhar junto ou não.
Paola Antony – Você toca com muita gente, não é, Marcus?
Marcus Moraes – São muitos projetos. Uns que são meus também, como o caso do Passo Largo, com Pablo Fagundes, parceirão; com Esdras Nogueira, a gente sempre trabalhou junto, fazendo a produção dos álbuns; e fora isso o meu trabalho solo. São pessoas muito queridas. Há também o trabalho do Belchior, a gente só toca Belchior com a Alessandra Terribile, que é maravilhoso; outro, que é só Elis, com a Anahi. São projetos por que eu tenho muito carinho, é gostoso tocar esse tipo de música. Paola, o tempo inteiro eu estou envolvido com a música, até dormindo eu sonho que estou tocando (risos).
Paola Antony – Marcus, você é um instrumentista de peso, que acompanha cantores, mas tem um trabalho de interpretação e composição no violão e guitarra, inclusive essas pessoas que falam de você e que passaram por aqui me contaram que sua capacidade de interpretação é incrível. E é música instrumental. Queria saber o que você acha da música instrumental no âmbito comercial. Qual o espaço que ela tem?
Marcus Moraes – Olha, a música instrumental pode levar longe, porque ela não é uma música datada, não é uma coisa do momento, aquele tipo de música e ponto final. Falando assim, de um jeito bem amplo, eu já tive a oportunidade de conhecer muitos lugares do planeta viajando com a música instrumental, nunca com a música cantada, olha só que coisa. Porque a gente acha que, com a música cantada, pode ser que o som tenha muito mais chegada, que você consiga mostrar melhor seu trabalho, mas na verdade essa é uma coisa da nossa cultura, eu acho. Porque lá fora, se você toca um samba instrumental, as pessoas dançam. "Véi", está tudo certo, sabe? E, na verdade, há essa coisa da música brasileira que instiga mesmo, principalmente para quem vem de fora. É uma coisa maravilhosa em termos rítmicos, melódicos, harmônicos. É sempre tão alegre, aquela coisa toda. Eu já conheci lugares que nem imaginava conhecer por causa da música.
Existe um nicho, isso é fato, não há como fugir disso, mas talvez seja por falta de se conhecer um pouquinho mais, de as pessoas se abrirem um pouquinho mais e conhecerem. É isso, é como ver uma pessoa cantando pra caramba, é a mesma coisa que ver uma pessoa tocando bem seu instrumento, existe uma magia.
Paola Antony – E esse seu disco, Marcus, Músicas Que Me Vêm de Repente?, estava ouvindo aqui. Conta um pouco desse disco. Esse título é tão interessante. É assim que acontece com você? A música lhe vem de repente?
Marcus Moraes –É desse jeitinho. E, no caso desse álbum, o que aconteceu, Paola, é que me veio uma música para a minha filha, uma música para a minha mãe. Elas vieram assim mesmo, opa, apareceu. É uma música um pouco mais reflexiva sobre que decisão tomar em alguma coisa da sua vida; outra mais alegre, para uma pessoa que é alegre. Sabe, esse tipo de coisa? Esse álbum é todo endereçado, na verdade, eu gosto de dar o endereço para as músicas, vamos dizer assim. E foi um projeto totalmente independente. Eu não tive apoio de nada, só das pessoas amigas, que estiveram juntas na produção e tocando. Ele foi surgindo devagarinho, aparecendo uma música aqui, outra ali, e, quando você ouve tudo, vê que há uma liga, não é uma coisa desconectada, uma música completamente diferente da outra, é isso.
Paola Antony – Que interessante essa característica de a música ser endereçada!
Marcus Moraes – Sim, inclusive no último álbum que lancei, este ano, álbum totalmente virtual, as músicas são também endereçadas. São para filhos de amigos meus, amigos e amigas, casais ou não, para bebês, porque eu fiz a música quando eles eram bebês. Foi uma coisa que surgiu quando a pessoa falou, "nossa, estou grávida". E aí, de repente, estou fazendo uma música para essa pessoa e todas as músicas têm os nomes das pessoinhas.
Paola Antony – Marcus, outras pessoas já interpretaram suas composições?
Marcus Moraes – Esse é o próximo desafio, que é um dos grandes desafios de ser compositor. Fazer com que as pessoas toquem suas músicas. É quando as coisas começam a se perpetuar. O que seria do Tom Jobim, estou falando logo de quem é muito gênio, do Baden? O que seria do Baden se as pessoas não tocassem as músicas dele? Ia ficar tudo na história, tudo guardadinho, as pessoas iam conhecer, mas não teria essa vazão, vamos dizer assim. É um outro jeito de pensar no futuro. Talvez o próximo desafio seja este: criar meios para que as pessoas conheçam as músicas e executem. Há música que é mais difícil, é meio chato, a pessoa tem de estudar mesmo, e há coisa que é um pouco mais fácil.
Paola Antony – O Passo Largo, Marcus, como é? Eu já conversei um pouco com o Vavá, mas me conta você, seu ponto de vista sobre esse trabalho.
Marcus Moraes – O Passo Largo é onde a gente extravasa tudo, a gente pode tudo no Passo Largo. É uma banda meio de rock e que a gente não tem pudor com nada. A gente gosta de tocar tudo e toca tudo que quer. Somos três instrumentistas e cada um fala uma coisa, se for prestar atenção na música, mas que se junta no final, sabe? Não é uma coisa desconectada, pelo contrário, Vavá faz uma linha de baixo "foda", Tiagão está praticamente solando, tocando bateria, e eu também. E, quando você escuta tudo junto, pensa, "pô, está dando certo isso aí".
Paola Antony – E com o Esdras, como é seu trabalho e sua relação com ele?
Marcus Moraes – Pô, Esdrinhas é meu “brotherzaço”, meu irmão. Nós temos dois trabalhos juntos. Um que é o trabalho dele, Esdras Nogueira Quarteto. Desde o primeiro disco solo dele que a gente está junto, fazendo arranjos ou compondo. Às vezes ele dá uma melodia e eu harmonizo. A gente marca ensaio, faz arranjos, aquela coisa toda, e há um outro trabalho, que é meu, mas é nosso também, que é um curso que nós criamos juntos, que se chama Revistinha do Marquinhos. É um curso de violão, de arranjo e violão, e ele, com a Mari, que é a companheira dele, somos sócios. No trabalho do Esdras, como músico, é maravilhoso. No último trabalho, nós regravamos o Transa, do Caetano Veloso, em versão instrumental, com a nossa pegada, nossos arranjos, do jeito que a gente queria mesmo. Não era para ser um cover, então ficou completamente diferente, mas é o álbum do Caetano, uma releitura. Com ele a gente viajou muito, tanto no Brasil quanto fora, mostrando esse trabalho.
A entrevista completa de Marcus Moraes para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no Soundcloud da Rádio Eixo.
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