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Paola Antony

Oswaldo Amorim


Oswaldo nasceu no Rio de Janeiro, mas mora em Brasília há um bom tempo. Começou seus estudos de música ainda na infância, mas foi aqui que ele se profissionalizou. Depois partiu para Nova York, para se aperfeiçoar na música e, de volta a Brasília, deu sequência a uma carreira de sucesso e prestígio. Apresentou-se em várias cidades do Brasil e do mundo e já tocou ao lado de grandes nomes, como Branford Marsalis, Marcio Montarroyos, Roberto Menescal, Toninho Horta, Sérgio Sampaio, Hermeto Paschoal, Raul de Souza, Danilo Caymmi, Leo Gandelman, Hamilton de Holanda e muitos outros.

Atualmente, além de acompanhar artistas nacionais e internacionais, desenvolve seu trabalho solo, com composições próprias e arranjos que traduzem as influências, a musicalidade e a versatilidade de sua música. Onze dessas composições estão reunidas em seu CD Oswaldo Amorim, lançado em 2019, que iremos ouvir aqui no Cumbuca de hoje, com a presença do próprio Oswaldo.

Paola Antony – Oswaldo, já que abrimos falando disso, como foi e está sendo sua vida artística nesse momento da vida, desde o ano passado, 2020?

Oswaldo Amorim – Paola, foi como a palavra do momento, se reinventar. Foi um momento disso, uma imersão em outras áreas que eu até então não dominava, não participava, que é essa parte mais digital, essa mídia digital. A primeira vez que eu postei um vídeo no YouTube foi no ano passado, em abril, na pandemia. A gente sem poder tocar, sem poder estar em shows com as pessoas, com os músicos. Tive de investir em equipamento de gravação, porque até então eu só gravava em estúdio, e comprei um equipamento profissional. Está tudo aqui em casa e comecei a fazer produções em casa, gravações para várias lives, workshops, tudo aqui. Nesse ponto a pandemia foi boa, porque adiantou um processo no qual eu deveria ter entrado há muito tempo, porque hoje em dia essa parte da mídia digital é muito forte e essa coisa de você ter um estúdio em casa ajuda demais. Possibilita, por exemplo, você ter parcerias com pessoas do mundo inteiro. Um amigo meu do Rio, falou assim, "Ó, estou fazendo um vídeo e queria contar com você, tem equipamento para gravar?". Eu fui fazer e, para minha surpresa... Não sei se você viu esse vídeo, chama-se Ternura, tem Mônica Salmaso, Leila Pinheiro, Sérgio Loroza, foi tanta gente boa que participou. O Roberto Menescal fez os arranjos com o Flávio Mendes e eu fiz o baixo aqui de casa. Foi a primeira gravação que fiz.

Paola Antony – Oswaldo, o baixo é um instrumento de acompanhamento, pelo menos, na maioria das vezes. É um instrumento difícil de ouvir para ouvidos pouco treinados, não é? Estou lhe falando isso para saber do seu trabalho autoral, como é que funciona? O baixo vem na frente, você cria com o baixo?

Oswaldo Amorim – Claro que dá para tocá-lo também sozinho, dá para você fazer uma performance solo, mas a função do baixo é de apoio, é um instrumento realmente de suporte para a banda. A gente fala que é como a fundação de uma obra, é a estrutura. O baixo é que dá essa estrutura, tanto rítmica, quanto melódica. A bateria é uma estrutura rítmica, o baixo é rítmico e melódico, porque a nota dele influencia todo o acorde. O baixo fundamental que eu vou fazer é que vai dar a cor do acorde que virá. Quem é músico sabe disso, por exemplo, o pianista toca um Dó Maior, se por acaso eu não toco a nota Dó e toco a nota Lá, esse acorde deixa de ser Dó Maior e vira Lá Menor, por mais que o pianista esteja tocando Dó Maior, porque a tônica já o leva para um outro mundo. O baixo tem essa função de ser, ao mesmo tempo, uma sustentação rítmica, melódica e harmônica também.

Hoje em dia, há grandes músicos que fazem acordes, o Hebinho Cardoso é um exemplo maravilhoso disso. O Hebinho tem um trabalho lindo, eu o chamo de Toninho Horta do contrabaixo, ele faz cada acorde melody no instrumento que você não acredita. Há grandes baixistas da nova geração que estão levando o baixo para outro nível, outro patamar. O baixo, depois do Jaco Pastorius, ganhou um papel de solista, isso nos anos 70, porque até então era realmente muito de suporte. A partir do Jaco, com os harmônicos vindo em primeiro plano, o baixo ganhou papel de solista, de melodista, de harmonia.

Paola Antony – Muito legal saber disso, inclusive você tem um trabalho que é um tributo ao Jaco Pastorius e tem também um trabalho lindíssimo, de que me lembrei agora, com o Paulo André Tavares, o CD Na Estrada. Já perdi as contas de quantas vezes na vida já programei essas músicas. Gosto especialmente de duas: Bye, Bye, Brasília e Remembering Bob.

Oswaldo Amorim – Esse disco com o Paulo André foi outro presente na minha vida. P. A. é um músico por quem tenho muita admiração, uma amizade muito grande, uma trajetória. Nós moramos juntos em Nova Iorque. Foi um dos primeiros grandes músicos com quem toquei na minha vida. Eu era aluno na escola de música e ele era professor, e a gente tocando juntos. Depois ele me convidou para fazer parte do trabalho solo dele, da gravação do primeiro disco solo, que acabou parando no meio do caminho por problemas da época, de produção executiva, e nunca terminamos, mas chegamos a gravar seis faixas para o CD solo. Tive esse privilégio, P. A. nunca tinha gravado um disco dele, tinha feito parcerias. Fez uma parceria linda com a Muriel Tab, disco muito bonito, só que não eram músicas dele. Esse disco, não, foram composições nossas. Foi praticamente o primeiro disco do Paulo André, e meu também. Começar fazendo isso com esse grande músico... A gente fez os arranjos praticamente no estúdio, Paola, acredite. Fomos para o estúdio, fizemos uma pré-produção, mas foi no estúdio que a gente foi fazendo, e há duas músicas que entraram de última hora, porque a gente ia colocar duas músicas que não eram nossas, e, por causa de um problema com direitos autorais, que, na época em que a gente gravou, era muito caro, muito caro para se prensar, a gente resolveu tirar essas duas músicas e colocar outras. Ele perguntou: "O que você tem aí?". "Ah, eu tenho essa música, Reencontro". Ele nunca tinha ouvido na vida essa música, e havia uma dele também, Manhã de Cinzas, que eu também nunca tinha ouvido, e a gente entrou e gravou direto, com a partitura ali, e ficaram lindas as duas. Eu fiquei assim...que coisa! São as duas últimas do disco. Bye, Bye, Brasília é uma composição linda do Paulo André, feita quando ele estava saindo de Brasília para ir para os Estados Unidos. Ele disse: "Eu quero sair dessa cidade um tempo, preciso buscar outros horizontes, outros caminhos", e ele fez aquela música como uma despedida naquele momento, mas uma despedida com uma volta em breve.

Paola Antony – Oswaldo, você falou que encontrou o Paulo André em NY. Como é que você foi parar lá?

Oswaldo Amorim – O ano era 1995, eu estava me formando na UnB, em Música, e já tinha sido professor da Escola de Música, temporário, tinha sido contratado em 93, com 23 anos. Fui professor de muitas pessoas de Brasília, todo mundo que queria pegar aula de baixo me procurava nessa época e eu era muito novo. Pensei: não, não posso ser professor sendo que tenho tanto para aprender ainda. Já tocava com muita gente aqui, estava com uma carreira muito sólida, mas eu falei, não, eu preciso me especializar mais, preciso estudar, quero crescer mais no instrumento, então, fiz aplicação para uma bolsa na CAPs, Ministério da Educação, e consegui bolsa integral para estudar na Bass Collective, que é uma escola especializada em baixo. Na época grandes nomes do contrabaixo estavam nessa escola e consegui essa bolsa do MEC com tudo pago. Fui com salário do Ministério da Educação, com passagem paga, com seguro de saúde e o curso todo pago. Foi maravilhoso, só tenho a agradecer ao MEC. Pena que esse programa não existe mais. Era voltado para a cultura, para a arte em geral. Chamava-se Programa Partes e era para pessoas da área de dança, teatro, pintura e música, e fui um dos agraciados na época, fui passando nas seleções, até conseguir.

Foi uma imersão no instrumento. Eu me lembro que pegava o Village Voice, que é um jornal gratuito, que se pegava nas esquinas, e ia logo para a parte de shows. Eu via: nossa, Ron Carter vai tocar hoje, caramba, vai ter a Maria Schneider Big Band, e eu ficava alucinado. Eu tinha o dinheiro contadinho, porque lá há um sistema, um set e, se quiser assistir o segundo, tem de pagar de novo. O que eu fazia?, eu assistia um set do Ron Carter e ia correndo assistir ao show da Maria Schneider. Os amigos, vendo aquela minha peregrinação falaram, "Oswaldo, você já reparou que eles fazem show toda semana?". Foi aí que eu me dei conta. Eu fiquei igual barata tonta para tudo que é canto, durante um mês, achando que era oportunidade única, acostumado com o Brasil, né? Eu me dei conta e desacelerei.

Eu não dormia, Paola, eu me lembro que saia de um show para o outro e acordava cedinho para estudar, para ir à escola, mas foi um período maravilhoso, eu ficava com o instrumento umas 12 horas por dia. Estava sendo pago para isso. Então fiz jus e eu queria mesmo. Não queria largar o instrumento. Eu acordava, ia para a escola, ficava até a escola fechar. Ela fechava às 8 da noite, e eu já saía para ver os shows dali mesmo, deixava o baixo na escola e voltava só para dormir.

Paola Antony – Oswaldo, algo sobre seu disco que você tem vontade de falar? Alguma música em especial.

Oswaldo Amorim – Bem, uma questão para mim. Vou escolher a ordem das músicas, porque as músicas abrangem minha carreira inteira, há músicas de quando eu tinha 17 anos e há músicas de dois anos atrás. Aí me veio uma ideia, porque eu queria que esse CD fosse uma celebração. Peguei três trios diferentes com quem eu mais toquei nos últimos anos, em Brasília. Claro que ficaram grandes músicos de fora. O primeiro trio foi o Paulinho Marques, Paulo André Tavares e o Daniel Baker. Toquei muito com eles, desde os anos 90, na Escola de Música. Gravei três músicas com esse trio. O outro trio foi o Som Trio, com quem eu já tenho um trabalho há mais de 10 anos. Eu, o Serge e o Misael Barros, com quem gravei mais três músicas, e o outro trio foi com Renato Vasconcelos, que é um grande parceiro, amigo, e o Leander Motta, que é nosso fiel escudeiro, com quem gravei também três músicas. Montei esses três trios e veio a ideia de intercalar esses trios com peças solo, só o baixo. A música de abertura é um choro que não segue a estrutura formal do choro, mas é um chorinho que fiz em homenagem ao Clube do Choro; Infância, uma balada linda, um ternário, que fiz em homenagem à minha mãe e à minha infância; e a terceira música, Na Horta do Tom, em homenagem ao grande Toninho Horta, com a participação dele na guitarra, violão e vocal.


A entrevista completa de Oswaldo Amorim para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.



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