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Paola Antony

Pablo Fagundes


Gaitista brasiliense, Pablo Fagundes é também engenheiro florestal, músico formado pela Escola de Música de Brasília e professor de gaita da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. Virtuoso do instrumento também conhecido como harmônica de boca, é mais um dos representantes da música contemporânea produzida em Brasília que o programa Cumbuca vem apresentando. Pablo trabalha com as diferentes sonoridades produzidas pelas gaitas cromática e diatônica.

Paola Antony – Pablo, eu estava dando uma xeretada na sua vida e fiquei "de cara" de ver quanta coisa você faz. Que ritmo, hein? Então, me deu vontade de começar por um começo técnico, pedindo para você explicar a diferença das duas gaitas que você toca: a diatônica e a cromática. Rapidamente, só para a gente entender um pouquinho.

Pablo Fagundes – A gaita mais popular, que ficou famosa por causa do rock e do blues, é a gaita diatônica, que tem 10 furos e que há várias formas de se tocar. Ela ficou conhecida por ser tocada no blues, mas hoje é tocada cromaticamente, que é uma técnica, todo um lance. Para o leigo, a gaita diatônica é a gaita que não tem chave, tem 10 furos e o som dela é bem bluze, mas também dá para tocar muitas músicas brasileiras, porque ela possibilita tocar a escala cromática como a outra gaita. É conhecida como "gaita de blues".

A gaita cromática é essa que tem uma chave do lado, existem de diversos tamanhos, são 64 palhetas que emitem notas diferentes. O que você faz com a boca lá, aqui você tem o auxílio da chave, e a escala cromática sai com mais fluência, com mais facilidade. As duas são dois instrumentos completamente diferentes no tocar, mas são consideradas gaitas.

Paola Antony – Pablo, como foi que você e a gaita se encontraram?

Pablo Fagundes – A história começou na adolescência, com 18, 19 anos, acho, quando um amigo chegou tocando na quadra uma dessas e, quando ouvi, pensei: que sonzeira, que negócio legal! Vou comprar uma gaita. Eu já tinha uma iniciação musical com flauta doce na minha infância. Eu trabalhava como office-boy e peguei meu salário e comprei uma gaita diatônica que custava uns 60 reais. Pois bem, comprei a gaita e comecei a tocar as músicas que eu aprendi na flauta, tentando achar as notas e, quando eu fiz o band, que é um efeito que os instrumentos de sopro não têm, ou seja, você toca a nota soprando e toca a nota aspirando, quando senti essa coisa de soprar e aspirar, essa força vital, fiquei apaixonado e não larguei mais.

Segui estudando e entrei na faculdade, só que eu fui estudar Engenharia Florestal, porque eu não acreditava que iria conseguir viver de música e também era muito novo, não tinha nenhum músico na família e fui pegando as matérias da música enquanto fazia Florestal. Quando me formei, fazia cinco anos que dava aulas de gaita. Um amigo meu, que passou comigo, insistiu para dar aula de gaita para ele. Eu já tocava no CA e ele insistia: "Você não vai me dar aula de gaita?". Eu dizia: "Não sou professor, não". Isso era 1997. Mas aí eu topei. Organizei tudo que tinha, fita cassete, xerox, escrevi uns negócios, preparei uns lances. O pouco que eu sabia já servia para ele. Foi meu primeiro aluno, o Alan, e apareceram vários outros alunos. Depois que eu montei esse lance, saí colando cartazes na UnB, "Aula de gaita aqui na UnB mesmo". Dava aulas no campus e às vezes na minha casa e peguei vários alunos. Comecei minha vida profissional ali. Quando me formei, já trabalhava muito mais com música do que com qualquer coisa relacionada à Florestal.

Paola Antony – É daí que surge o gancho sensacional que, por causa da Florestal, você desenvolveu um projeto de produção de gaitas com madeiras brasileiras que não estão em extinção?

Pablo Fagundes – Exatamente, foi uma ideia que surgiu nas férias da UnB, quando eu costumava ir para a praia e tocava com a galera.

À noite, quando eu voltava, percebia que as madeiras estavam inchadas na parte de dentro e que elas não tinham um tratamento específico e eu quis estudar madeiras em que não acontecesse isso. Cheguei ao LPF [Laboratório de Produtos Florestais, UnB] e dei uma sorte danada de pegar um orientador, a quem agradeço até hoje, professor Mário Rabelo, que era chefe do LPF na época, diretor, e ele fez contato com a Hering, que encampou o projeto. Ele falou: "Vamos pesquisar madeiras aqui, vou pegar essa pesquisa que a gente já tem com mais de 100 madeiras e vamos escolher 10". Fizemos o projeto, fomos muito felizes com a parceria com a Hering Harmônica na época, através do Ibama. Depois que me formei, fiquei durante 10 anos com a Hering, sendo patrocinado, mesmo antes de gravar discos, por causa da pesquisa. Acho que isso me puxou muito para a música, porque, desde que eu me formei na UnB, em 2002, vivo 100% da música. Antes era dividido, mas, desde essa época, minha vida é 100% música.

Paola Antony – Pablo, falamos do professor, do engenheiro, mas e o músico? Quando foi que ele despontou, quais as lembranças do seu primeiro CD?

Pablo Fagundes – Acho que as primeiras gravações que fiz foram com as bandas do início, foram com o blues, com Celso Salim, lá para 2004, 2002, por aí. Naquela época, eu mergulhei de cabeça no blues. Era gaita blues a referência que eu tinha. Eram os gaitistas americanos, então fui muito em cima dessa história. Foi onde peguei essa sonoridade da gaita que todo mundo conhece. Dentro desse processo da UnB, fui vendo que a galera gosta de blues, mas valoriza a música brasileira, né, bicho? Você ouve cada "sonzeira" brasileira. Nessa, eu vi que só o blues não estava me satisfazendo e fui migrando nesse tempo, tocando na gaita diatônica mais música brasileira, explorando essa técnica, que é muito específica. Para você tocar essa técnica cromática na gaita diatônica exige muito trabalho de afinação, é um trabalho extra, muita técnica para você conseguir emitir as notas e depois poder afinar essas notas. É um negócio louco. Fui mergulhando nesse lance, fui fundo. Vou tocar cromaticamente música brasileira numa gaita de blues. Na época ela era bem conhecida como gaita de blues.


A entrevista completa de Pablo Fagundes para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.





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