Programa Clandestino 140 – Afrosound
Nota 1
Começa agora o Programa Clandestino, como sempre na Rádio Eixo. Lembrando que o Programa Clandestino, na sua temporada de 2024, é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, FAC-DF.
E dessa vez vamos dedicar o nosso espaço clandestino ao mítico grupo Afrosound, nascido lá na Colômbia, no selo discográfico Discos Fuentes, que já apareceu em outras ocasiões no nosso programa. E que se tratou mais que de um grupo musical, de um coletivo de experimentação sonora e musical. O grupo Afrosound, liderado por dois grandíssimos músicos, por duas grandíssimas figuras da música colombiana, da música tropical, da música caribenha, como são o importantíssimo guitarrista Mariano Sepúlveda, mais conhecido como Papari, e o lendário Fruko, que também já apareceu em outros nossos programas aqui na Radio Eixo, no Programa Clandestino. Fruko, mais conhecido pelo seu apelido Fruko, mas que na verdade se chama Julio Ernesto Estrada Rincón, e que liderou outros importantes grupos musicais.
Para entender um pouco a história e a sonoridade do grupo Afrosound, é necessário nos situar no momento no qual o grupo nasce, lá nos anos 70, no século passado, que era um momento na música, um momento na discografia do norte da Colômbia, na discografia caribenha, mas também na discografia latino-americana, dominado em parte pelos grupos de salsa. Por aquele fenômeno musical que fusionava ritmos afro-latinos, ritmos afro-cubanos, afro-antilhanos, e que se juntando lá nos Estados Unidos, em Nova York, a partir dos imigrantes latinos, se criou aquela fusão, aquele selo, aquele nome de Salsa, e que dominava naquela época a música dançante. Mas, dentro da Colômbia, também tinhamos um pouco da herança da música tropical, da cumbia e outros ritmos, entre aspas, folclóricos, que eram gravados antes do surgimento da Salsa, e que dominavam as festas, e tinha algumas releituras, algumas novas versões modernizadas, do que se conheceu informalmente como o chucu-chucu, que seria essa música tropical, com uns arranjos um pouco mais comerciais, que era usada e era gravada para dançar nas festas de fim de ano, especialmente aqueles míticos 14 Cañonazos bailáveis que nós já fizemos dois especiais aqui no programa Clandestino.
Pois bem, a essa mistura, a esse cenário musical, devemos acrescentar a influência do rock vindo nos Estados Unidos, a partir do final dos anos 50, e as versões desse rock mais latinas, digamos assim, mais tropicalizadas, talvez, que aconteceram muito no Peru, com a música chicha e também a cumbia amazônica, a cumbia psicodélica. Esse lance, essas influências de psicodelia, também vem a participar no surgimento do grupo Afrosound, que precisamente queria um pouco juntar tudo isso que falámos, aparecer na cena musical dominada pela salsa, trazer uma proposta diferente, uma proposta original, uma proposta desafiadora, pegando um pouco dos ritmos tropicais colombianos, mas introduzindo experimentações de rock e psicodélico.
É o que a gente escutou na nossa primeira música, que é a dança de Los Mirlos, muito conhecida, precisamente do grupo peruano Los Mirlos, e que é uma das músicas mais importantes desse momento da cumbia peruana selvática, da cumbia peruana psicodélica, e que nessa versão de Afrosound realmente traz tudo que a gente vem falando. É uma espécie de resumo dessa proposta do importante grupo Afrosound, que teve uma importantíssima atuação desde o começo dos anos 70 até os anos 80, 90. Na música popular, na música folclórica, entre aspas, na música dançante de América Latina. Então vamos começar esse nosso Programa Clandestino, escutando um pouco da discografia do importantíssimo grupo Afrosound, desse coletivo de experimentação, desse coletivo afro-tropical, de latinsoul e rock-tropical, aqui, como sempre, no programa clandestino da Radio Eixo.
Nota 2
Continuamos o nosso Programa Clandestino, Música sem Documentos, aqui na Rádio Eixo, escutando um pouco, uma amostra um pouco da discografia do importante grupo Afrosound. Como já falamos, para entender a importância do grupo Afrosound, e entender os motivos da criação do grupo Afro Sound, é impossível sem entender um pouquinho da história da casa discográfica, do selo discográfico Discos Fuentes, que controlou a música tropical, a música dançante colombiana e dos países vizinhos desde os anos 60 do século XX até praticamente os nossos dias. Esse selo discográfico encarregado de difundir, de gravar, de registrar a música tradicional, a música, entre aspas, folclórica da Colômbia, era também, é também, basicamente, especialmente, um empreendimento comercial. Um empreendimento econômico que buscava a gravação de esses artistas, que buscava o impulsionamento desses artistas, mas com o intuito sempre no ganho econômico de uma forma bem relevante.
Por isso, em alguns casos a história e Discos Fuentes não é sempre transparente, e em alguns casos há algumas acusações de não pagamento dos direitos autorais, dos verdadeiros compositores, e outras situações não bem resolvidas até o dia de hoje, como por exemplo ter gravado, ter publicado o disco completo de um grupo antilhano com o título Afrosound, que era o nome desse grupo que eles mesmos impulsionaram. Bem, o grupo Afrosound, como a gente vê, mais do que a união espontânea de alguns músicos que queriam tocar, foi realmente um empreendimento comercial que foi colocado realmente nas mãos e dos grandíssimos músicos como Papari, Manuel Sepúlveda e Fruko que trabalharam juntos e não podia dar outra coisa. Foi um grande sucesso e dominou um pouco o panorama musical dançante junto com outros grupos nos quais eles mesmo trabalhavam. Devemos lembrar que o Fruko também tinha um importantíssimo grupo, Fruko y sus Tesos, onde nasceu a importantíssima figura artística do Joe Arroyo, ao qual já dedicamos o nosso Programa Clandestino. Mas o Fruko também tinha os Latin Brothers, que misturavam um pouco de Salsa com outros ritmos. E tinha também um importantíssimo grupo, Wanda Kenya, do qual já fizemos um programa especial também aqui do clandestino. Que realmente pegava um pouco da sonoridade tropical, mas o seu modelo a seguir, o seu modelo a imitar, era o Afrobeat africano. Era praticamente uma forma de fazer Afrobeat colombiano. Do mesmo jeito que ele tentava fazer um pouco de cumbia amazônica com psicodelia, mas na versão própria dos Discos Fuentes.
Então, esses músicos que se juntaram lançaram alguns discos, mas pela própria característica do experimento musical, pela própria característica do projeto, não era um grupo que trabalhava continuamente, mas gravavam seus discos e se apresentavam quando eles, os músicos, tinham tempo de se dedicar exclusivamente ao Afrosound. Pegavam um pouco do seu tempo livre dos Latin Brothers, do Fruko y sus Tesos e outros projetos paralelos, e também faziam um som com o Afrosound. Então, é mais um grupo de músicos muito talentosos que, entre as suas características, tinham a possibilidade de tocar diversos ritmos diferentes, de fazer diversas criações, e que uma dessas criações foi Afrosund, que era a mistura de música tropical com a música psicodélica dançante e que precisava ser um sucesso, e precisamente era o que acontecia e acontece até agora. Vamos continuar, então, escutando um pouco dessa proposta musical, dessa experimentação musical, de Afrosound aqui no programa clandestino da Rádio Eixo.
Nota 3
E vamos dando continuidade ao nosso Programa Clandestino, dedicado ao interessantíssimo grupo musical, ao interessantíssimo projeto de experimentação musical do grupo Afrosound. E surfar nas capas dos discos do Afrosound é realmente uma aventura bem interessante, bem engraçada. Vamos lembrar que estamos falando de um grupo em atividade a partir dos anos 70, 70, 80, talvez até o começo dos anos 90, que hoje em dia, aliás, está voltando na atividade e trazendo alguns dos seus membros originais, se bem, nem todos eles, já que passou muito tempo. Hoje em dia, na era do Spotify, na era da internet, o grupo Afrosound está tentando voltar, está voltando em algumas apresentações ao vivo. Todo mundo lembra das músicas do Afrosound, mas devemos lembrar que a sua época, que seu apogeu realmente foi na época do vinil, na época dos discos, na época do império dos Discos Fuentes. E isso se nota muito bem nas capas dos discos, nas gravações e regravações do grupo Afrosound, que talvez para o público, mais que conhecer especificamente o nome do grupo Afrosound, conhecia algum dos seus músicos e especialmente conhecia as suas músicas, que nem sempre eram originais. Muitas vezes eram versões, versões tropicais de outro tipo de música e que pegavam essas referências, não só da música chicha, da música da cumbia selvática, da cumbia psicodélica amazônica, mas também do rock e de outros ritmos e misturavam como o som Afrosound, mas dando uma versão, vamos dizer assim, tropical colombiana.
E isso traz algumas confusões. Os discos foram gravados várias vezes e é possível, por exemplo, encontrar alguns dos discos com capas diferentes, em gravações diferentes e que hoje em dia, claramente, viram um tesouro ambicionado pelos garimpeiros, pelos colecionistas, de esses vinis que se encontram dificilmente no mercado. E essas capas realmente trazem muito dessa característica daquela época, com as capas, às vezes, de um gosto, vamos dizer, um pouco ambíguo, e que o que tentavam fazer era mais capturar a atenção do comprador, do que trazer uma mensagem clara do que era o conteúdo do disco. Muitas vezes, com pouca informação, nem sempre dando o crédito das músicas. É difícil acompanhar um pouco a biografia do grupo a partir desses discos, algumas versões também são piratas, e realmente demonstram um pouco do que era esse momento da indústria discográfica, da indústria fonográfica da região. Então, aqui no Programa Clandestino trazemos, da mão de Fruko e Papari algumas versões interessantes, alguma demonstração do que era essa experimentação, do que era essa mistura de ritmos caribeños, ritmos também norte-americanos, como o rock, um pouco de psicodelia, também psicodelia peruana a partir da cumbia e outros ritmos caribeños e afro-caribeños. É o grupo Afrosound aqui, como sempre, no Programa Clandestino da Rádio Eixo.
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