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Yago Quiñones Triana

Programa Clandestino com o rebelde da Salsa, Ángel Canales!

Programa Clandestino 138 – Ángel Canales

 

Nota 1

Está começando na Rádio Eixo, música sem algoritmos, mais um Programa Clandestino, músicas sem documentos. Lembrando que, nesse ano de 2024, o nosso Programa Clandestino é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, FAC-DF.

Dessa vez, vamos dedicar o nosso programa a uma figura fundamental, a uma figura totalmente original, diferente e única do universo da salsa. Lembrando que a salsa é aquela mistura de ritmos afro-latinos, afro-cubanos que chegaram em Nova York e que chamamos de Salsa. O Ángel Canales é uma figura totalmente diferente porque é uma figura que passou praticamente toda a sua carreira, se enfrentando às grandes gravadoras. Tentando manter o seu estilo, a sua forma de cantar, particular e que não é um consenso entre os especialistas. A gente começou escutando um grandíssimo sucesso, Lejos de ti, que é uma música do disco Sabor, do ano 1975, e que traz um pouco a biografia dele nessa música. Ele vai falar que é Boricua, que é quem nasceu em Porto Rico, mas que foi muito jovem morar nos Estados Unidos, morar em Nova York, especificamente em Manhattan, mas nunca esqueceu as suas raízes, nunca esqueceu a sua terra natal.

Como muitos dos conterrâneos que moravam naquela época, dos anos 70, do século passado, ficavam com saudade, ficavam com nostalgia, e esse foi um sucesso total. Ele até chorava algumas vezes quando cantava essa música ao vivo, porque realmente lembrava da sua terra e o público que vibrava com ele e também lembrava que ainda morando nos Estados Unidos, ainda sendo um latino em Nova York, iam sempre lembrar as suas raízes. Essa música então é do seu segundo disco, mas na verdade o seu primeiro disco foi gravado em 1971, foi o disco Brujería, gravado pela Casa Discográfica Vaya, que era uma filial da Fania, da mítica Fania que controlava todo o mercado da salsa daquela época. Mas o disco, especialmente a voz de Angel Canales, que a gente vai escutar no começo desse bloco, cartando precisamente a música Brujería, que dá o nome do disco, era uma voz ainda tímida, mas essa proposta dele, essa voz dele, que gravou esse disco quase por casualidade, foi muito criticada e simplesmente a gravadora Fania não promocionou o disco, em uma época que não tinha Spotify, uma época sem redes sociais, que tudo era feito através da rádio.

A música e o disco simplesmente não foi promocionado e ficou no esquecimento. Porém, Ángel Canales, convencido de que a sua proposta era legal, que a sua voz era interessante e com a capacidade econômica que ele tinha, já que se dedicava a fazer joias, vender joias lá em Manhattan, tinha algum dinheiro guardado, e ele mesmo fez o próprio disco, chamou alguns amigos e, ao que parece, foi importantíssimo a função do pianista colombiano Eddie Martinez, que fez todos os arranjos para se adaptar à voz do Ángel Canales, e gravaram o importantíssimo disco Sabor, do qual escutaremos algumas músicas nesse nosso primeiro bloco. Realmente, a voz do Ángel Canales é uma voz diferente, é uma voz não ortodoxa, é uma voz que tem a característica de improvisar muito e realmente, às vezes, parecer desafinar, por isso foi rejeitado, mas, apesar disso, o disco teve um grande sucesso, apesar da sua voz não ser totalmente educada. A música, o disco, é um grande sucesso pagado, bancado pelo próprio Ángel Canales, e aí ele começa a ser reconhecido. Vamos escutar, então, algumas músicas precisamente desse álbum, Sabor, que teve um sucesso, talvez, inesperado, já que não estava apoiado pelas grandes casas de gravação. O disco colocou o Ángel Canales num lugar importante do universo da Salsa, fazendo esse estilo dele espontâneo, esse estilo diferente, esse estilo do bairro, que lembrava as festas do bairro, que lembrava a espontaneidade e a voz, às vezes, às vezes desafinada, mas sempre muito sincera. É o Programa Clandestino escutando nesse nosso primeiro bloco música do disco sabor do grandíssimo Ángel Canales, que é o diferente da Salsa, aqui, como sempre, no Programa Clandestino da Rádio Eixo.

 

Nota 2

Ángel Canales, grande artista ao qual dedicamos esse nosso Programa Clandestino foi sempre um rebelde. Já falamos que ele mesmo bancava suas próprias produções, com seu próprio dinheiro, bancava suas próprias promoções e ele cria um próprio selo discográfico para lançar os seus discos e tem um grandíssimo sucesso. Primeiro com o disco El San Juan e depois com o icônico disco El Sentimiento de un Latino en Nueva York, onde ele vai voltar às suas temáticas mais queridas que eram não somente o amor, como em outras músicas de Salsa, não somente a vida do bairro, mas basicamente a identidade do Latino en Nueva York, da vida dos latinos, da vida familiar, da vida das festas, da rua, da voz do bairro.

E ele era reconhecido então por esse seu estilo particular, não somente a sua voz, não somente a forma de sonear, que é aquela característica de improvisação que se faz na Salsa, mas também, inclusive pela sua forma de vestir. Ele tinha um estilo bem particular, com os cabelos raspados, umas roupas brilhantes que apareciam bastante, usando muitas vezes as suas joias, realmente olhando para ele parece pouco um cantor de Salsa, parece mais outra coisa, e ele foi ganhando cada vez mais reconhecimento. Esse disco, chamado precisamente O Sentimento de um Latino em Nova York, gravado com a casa discográfica dele mesmo, Selanac, trouxe uma grande série de sucessos, dos quais vamos escutar alguns exemplos, começando escutando Ana  Isaoco, e escutando O Sentimento de um Latino em Nova York, a música que dá nome ao disco, que realmente é um hino, é uma tese sobre o fato da identidade latina em Nova York. E fecharemos o bloco escutando duas interpretações que ficaram famosas porque não se trata de salsa e sim de boleros como Dos gardenias e Nostalgia no qual o Ángel Canales demonstra todo o seu sentimento toda a sua capacidade, muitas vezes criticada, mas que realmente demonstra a sua originalidade e demonstra que a sua proposta fazia sentido, pelo menos para ele, e que era totalmente original e foi muito bem acolhida. Vamos então continuar, esse é o segundo bloco, escutando um pouco a música do latino, a música do sentimento de um latino em Nova York com Ángel Canales, ele, o diferente de la salsa, aqui como sempre no programa Clandestino da Rádio Eixo.

 

Nota 3

O Ángel Canales, a quem estamos dedicando esse nosso Programa Clandestino, desde o começo da sua carreira, se opôs às grandes discográficas, se opôs à indústria musical, talvez com a vantagem de ter a possibilidade de bancar os seus próprios projetos, mas nunca mudou de ideia. Há quem conta que alguma vez levou um disco gravado pela Fania para assinar, e ele não assinou porque não queria assinar nada que tivesse um nome dessas pessoas que rejeitaram ele por críticas e por falta de talvez amplitude mental e vontade de escutar um pouco melhor, de aceitar uns estilos diferentes, e ele continuou sempre a sua carreira nesse seu estilo e gravou outros muitos discos, mas é paradigmático que, apesar de um boicote, apesar de todo mundo saber que era criticado pela indústria, que era criticado pelos grandes sabedores, pelos grandes conhecedores, pelos grandes críticos da Salsa, ele tinha um apelo popular enorme e seus discos que continuavam se vendendo e conseguiu ter um seu lugar dentro da Salsa.

Há quem conte que ele que admirava muito ao grande Héctor Lavoe, alguma vez encontrou ele no camarim e o Héctor Lavoe precisamente lhe falou: olha, você é muito legal mas tem que aprender a cantar, e ele reconheceu. Ele sabia muito bem que a sua voz não era perfeita, muito longe de ser perfeita, mas era original e as pessoas gostavam. Então ele foi aproveitando, foi criando, foi adotando essa sua característica de ser diferente, de ser digamos um outsider e por exemplo lança um disco que chama El Diferente, já que ele era o diferente da Salsa e ao invés de se ofender, usou essa crítica, usou esse seu estigma para ser realmente diferente e criar a sua própria figura.

Ele sempre reconheceu isso e tem uma música que a gente vai escutar nesse nosso bloco, por exemplo, que chama Tenemos Que Echar Palante, onde ele explicitamente vai falar que ele sabe que não é um grande sonero, que ele sabe que não tem uma voz espetacular, mas ele vai em frente, ele continua. O importante é o sentimento, o importante é a sinceridade e também o importante é que as pessoas gostam e realmente as pessoas gostavam muito dele. Por isso, vamos deixar esse nosso último bloco, as nossas últimas músicas, para escutar algumas músicas ao vivo. Precisamente para demonstrar, precisamente para reiterar que a faceta de Ángel Canales ao vivo foi sempre fundamental. Ele não fazia muitas apresentações ao vivo, mas quando saía dos Estados Unidos, quando saía de Nova York, fez algumas apresentações que viraram realmente míticas e famosas. Como por exemplo na Venezuela, onde um show teve que ser aliado pela quantidade de pessoas que aguardavam e teve que ter um show a mais. Ou então, em Peru, na cidade de Lima, tinha tantas pessoas também esperando por ele, a sua fama era tão grandiosa, que também tiveram grandes problemas de segurança de ordem pública. Ou então em Panamá, quando ele fez um show mítico, um show lendário que nem ele esperava de receber e ter esse recebimento tão caloroso, inclusive fez uma música chamada Panamá Soberana, onde ele conta a sua surpresa de descobrir que era amado e que era reconhecido nesse belo país.

Então essa música inclusive que vai fechar o nosso programa, música ao vivo, que está incluída no disco Live at Roseland, onde realmente se escuta o importante sonido do saxofone barítono, que era uma característica dele, uma característica dos arranjos de Eddy Martínez e a potência da sua orquestra muito bem arranjada. Talvez sem os virtuosismos que teria a Fania e outras grandes orquestras dos grandes músicos, mas que pela sua sinceridade, pela sua proximidade ao povo sempre foi extremamente popular. E o Angel Canales, que ainda está entre a gente, finalmente no final da sua carreira, ele se decide para retirar dos cenários, se retirar das gravações, porque começa a sofrer, alguns falam que é Parkinson, outros falam que é Alzheimer. De qualquer forma, ele consegue perceber que não está mais em condições de cantar e de tocar. E um dia, finalmente vai para a Florida onde mora nestes momentos. Falam algumas pessoas que lhe queimou todas as suas músicas, que não quis aceitar mais contratos, ainda recebendo propostas extraordinárias, decidiu por se retirar porque era consciente que não estava mais em condições de oferecer ao público o que lhes esperava.

Ángel Canales vive ainda, mas faz muitas poucas aparições em público, é um mistério e está realmente com a sua família cuidando dele nesses últimos dias lutando contra doenças, mas os seus discos permanecem, as suas características dentro da Salsa permanecem e aquela lição do cara rebelde, do cara que não se deixou quebrar e boicotar pelo dinheiro, pela grande indústria, pelos grandes críticos e continuou em frente e teve um grande sucesso e hoje em dia é reconhecido, pelo menos por ser um cantor original diferente, pelo menos pelos grandes sucessos. Quando ele se apresentava ao vivo e aquela mensagem sempre muito profunda que trazia do sentimento de um latino, de um cara sincero, de um cara do bairro, de um cara da rua, que apesar de morar nos Estados Unidos, permanecia com a identidade boricua e era um orgulhoso latino em Nova Iorque. Então, é o Ángel Canales, o rebelde, o diferente aqui, como sempre, no Programa Clandestino, a Rádio Eixo.

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