Programa Clandestino 127 – Curupira
O programa Clandestino desta semana é dedicado ao grupo colombiano Curupira, que mistura alguns ritmos tradicionais da Colômbia junto com novas sonoridades mais modernas. A seguir oferecemos a transcrição das falas explicativas do programa.
Nota 1
E é dessa forma poderosa, ancestral e moderna que começamos mais uma edição do programa Clandestino, escutando a espetacular música El Fruto do grupo colombiano Curupira. Começamos este programa e começamos uma nova temporada do programa Clandestino, desta vez turbinado graças ao incentivo do Fundo de Apoio à Cultura do DF, o FAC DF. E não podíamos começar de outra forma essa nova temporada que com o grupo que realmente estava faltando na nossa programação. Era um grupo ao qual estávamos devendo dedicar o seu programa próprio, o grupo Curupira, não confundir com o Trio Curupira e outras agrupações que tem também usando esse mesmo nome, também aqui no Brasil, já que aqui existe essa figura mítica, lendária também no Brasil. É aquele personagem que mora na floresta e deixa umas pegadas que confundem as pessoas, já que tem um pé em cada direção, e deixa um pé pra frente e um pé pra trás.
Inclusive um dos nomes do disco do Curupira é assim, Palante Patrá. Esse nome surgiu precisamente para dar um pouco de sentido à proposta toda do grupo Curupira, que mistura um pouco as tradições, mistura as tradições da música colombiana entre si, que já é um sacrilégio para alguns, mas mistura também esses ritmos tradicionais com sonoridades mais modernas, como o rock, o jazz e a eletrônica. Então, o grupo Curupira está com o pé para atrás, olhando para a tradição, respeitando a tradição e as raízes, e está com o pé na frente, olhando para novas sonoridades, olhando para o presente e olhando para o futuro, para a modernidade.
Começamos então escutando uma música, El Fruto, onde o ouvinte mais atento talvez já percebeu uma mistura extraordinária de sons, de ritmos e de instrumentos. O grupo Cunupira, liderado por Urián Tarmiento e Juan Sebastian Monsalve, dois músicos geniais nascidos na cidade de Bogotá, mistura realmente várias tradições da música colombiana, que poucas vezes se encontram juntas também, devido aos tradicionalistas, aos puristas, que não gostam desse tipo de heresia. Então eles misturaram de uma forma genial, já que não é fácil, a música. Do norte da Colômbia, a música do Caribe da Colômbia, esses instrumentos, essas sonoridades, essa forma de cantar, eles misturaram com ritmos do Pacífico, com instrumentos do Pacífico, como a marimba, essas ancestralidades de origem africana, e também misturaram com ritmos das montanhas, com ritmos do sul da Colômbia, e também com ritmos do llano, da savana, que se nota muito bem na sonoridade da harpa, e do cuatro, o instrumento de corda. Então, vamos continuar escutando algumas músicas da produção discográfica do importante grupo Curupira, lá da Colômbia, misturando sonoridades, misturando temporalidades, é o programa Clandestino, como sempre, na Rádio Eixo.
Nota 2
Continuamos nosso programa Clandestino, como sempre, na Rádio Eixo, escutando o interessantíssimo grupo Curupira, liderado por Urián Sarmiento, importantíssimo baterista de referência da cena local colombiana, e Juan Sebastián Monsalve, baixista, também músico de formação muito ampla, muito reconhecido. Os dois lideram este grupo Curupira, que teve uma atuação mais importante anos atrás, nesse momento encontra-se praticamente em stand-by, mas vira e mexe, eles se juntam e fazem alguma apresentação, fazem alguma tocada ao vivo. Acompanhar a história do grupo Curupira realmente é acompanhar a história da música colombiana, especificamente da música bogotana. Isso porque essas duas figuras importantes do grupo Curupira foram criadas em famílias de artistas, famílias de músicos, famílias que se encontravam no meio da boemia da cidade de Bogotá dos anos 90 e que realmente criaram aquela curiosidade musical neles, aquela curiosidade cultural nos seus filhos. E, não deu em outra, os dois são muito prolíficos na sua produção, muito estudiosos, muito disciplinados, pegaram todas essas influências e realmente são protagonistas e foram protagonistas de vários grupos míticos da movida musical bogotana.
Então, a gente vê a história do grupo Curupira, realmente eles aparecem, essas figuras aparecem em vários grupos importantes e a gente vê como começaram no punk, depois fizeram um grupo de rock mais experimental. Digamos que talvez o público, o círculo do punk e do rock, de garagem, talvez não estava preparado para a proposta deles, que era muito mais ambiciosa, e continuaram explorando os seus próprios instrumentos, continuaram bebendo de outras fontes importantes do jazz e de uma música talvez um pouco mais complexa. Mas um dia acabaram descobrindo, por via de um mestre tradicional do norte da Colômbia, acabaram descobrindo os ritmos tradicionais e perceberam que eles estavam prontos para essa linguagem, que estavam prontos para, primeiro, entender a linguagem específica, tradicional, a linguagem ancestral, e criar algo novo, criar uma proposta desafiadora, que é o que Curupira realmente faz. Faz a mistura dos ritmos colombianos, muito bem feita, coisa que não é fácil, e dá uma sonoridade moderna, de uma sonoridade atual. Vamos continuar então escutando mais algumas músicas do grupo Curupira. Onde é realmente muito fácil a gente perceber que a mistura ficou bem-feita e que os caras sabem o que estão fazendo. É o programa Clandestino, como sempre, aqui na Rádio Eixo.
Nota 3
Continuamos o nosso programa Clandestino, nossa nova temporada 2024, escutando o interessantíssimo grupo colombiano Curupira. O grupo colombiano Curupira talvez não é um consenso entre os críticos, ele chegou realmente para marcar uma diferença. A qualidade da sua música é indiscutível, já que os músicos que a fazem são estudiosos totalmente reconhecidos, que tocaram em outros grupos, produtores, compositores, com uma formação extremamente sólida, que tem muitos outros projetos e que tocam junto com outras figuras muito importantes na música colombiana e da música mundial. Alguns são produtores e têm a sua própria gravadora, enfim, mas eles cometeram aquele sacrilégio que alguns puristas não gostam, que é misturar, que é mexer com a tradição.
Isso criou algumas dificuldades, tem pessoas que simplesmente não gostam do grupo Curupira pela sua mistura entre ritmos colombianos e pela sua mistura com sonoridades modernas. Porém, o nível, a qualidade da música é indiscutível e talvez se a gente quiser fechar essa discussão, se é que vale a pena fechar essa discussão, uma prova talvez de que o projeto deu certo, de que o projeto respeita as tradições, é a participação de alguns grandes mestres dessas próprias tradições nos discos do grupo curupira. Tanto assim que o lendário Gualajo, o mestre que toca, ou que tocava a marimba, que é aquele instrumento tradicional da costa pacífica colombiana, o grandíssimo mestre que já foi morar no bairro de cima, o Gualajo participou das gravações do grupo Curupira. E não só, o mestre Paíto, grande mestre da música de gaita do Caribe, da Colômbia, que é outra região, outra tradição, a gaita, aquela belíssima flauta tradicional que se toca na região Caribe da Colômbia, também participou, também fez parte do grupo nas gravações. E também aparece o Cholo Valderrama, que é um importantíssimo cantor representante da música llanera, da música da savana do oriente da Colômbia, juntando assim três das mais importantes tradições que o grupo Curupira de forma genial misturou.
Continuamos então escutando mais dessas interessantíssimas misturas, mais dessa cozinha que foi criada pelo grupo Curupira, misturando gostos, misturando tradições, misturando temperos de uma forma genial. Genial e que nos deixou realmente, está nos deixando realmente umas gravações que ficam na história da música colombiana e da música latino-americana contemporânea. É sempre no programa Clandestino, aqui, na Rádio Eixo.
Nota 4
E vamos fechando esse nosso programa Clandestino dedicado ao grupo Curupira, um interessantíssimo grupo Curupira, no qual escutamos várias músicas da sua produção discográfica que começou lá pelo ano 2000, com um disco precisamente Palante Patrá, “pra frente e pra trás”, fazendo uma referência ao próprio conceito do Curupira, como já falamos no começo do programa, e com outros discos importantes, como Puya, que te coge, El fruto, que talvez é o disco que melhor consiga transmitir e condensar o próprio projeto. Depois, vieram alguns outros discos compilatórios, o disco Regenera de 2013, e ali veio um período de stand-by, mas, como já falamos, o grupo Curupira acostuma se juntar de novo e fazer algum show, algum encontro. Os músicos que fazem parte do Curupira também não ficam parados, eles tocam em vários grupos, tem vários projetos paralelos.
O grupo Curupira então nos parece que demonstra que, quando se faz com respeito, quando se faz com estudo, com disciplina, quando se faz consultando aos mestres a que carregam a tradição, quando se faz consultando as mestras e quem transmite essa tradição de forma respeitosa, quando se entende qual é a mensagem da música tradicional, qual é o peso dessa tradição, qual é o peso dessas raízes, dá para fazer coisas novas. Dá para inovar, dá para misturar com outras linguagens, sempre respeitando as tradições, sempre respeitando os ingredientes originais que produziram essa música tradicional. E é o que o grupo Curupira realmente demonstra e traz então essa nova sonoridade, essa sonoridade diferente, onde é possível catar, onde é possível escutar, perceber essas tradições como juntas e criar uma nova linguagem, criar um diálogo inovador e muito bem feito. É o grupo Curupira então e esse é o nosso programa Clandestino, como sempre, na Rádio Eixo.
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