Programa Clandestino 144 – Reguetón
Nota 1
Está começando nesse momento mais um Programa Clandestino aqui na Rádio Eixo. Lembrando que o Programa Clandestino nessa temporada e 2024 é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, FAC DF.
Esse nosso Programa Clandestino vai ser dedicado ao ritmo do Reguetón, o ritmo latino mais conhecido no mundo, talvez, o ritmo latino mais global, mais globalizado de todos. O ritmo latino com mais estrelas, com mais charme, com mais sucessos. O ritmo latino que obteve várias vezes o primeiro lugar em visualizações mundiais, a nível de bilhões, nas grandes plataformas de mídia. O ritmo que envolve uma indústria musical gigantesca, com mais grandes estrelas e um giro de dinheiro também bem importante.
Mas o Reguetón teve uns inicios bem mais simples, bem mais singelos, e é perfeitamente possível reconstruir e entender porque é um ritmo relativamente recente. Ainda que se falem muitas coisas sobre o Reguetón, ainda que se criem vários mitos, a verdade é que a história é um pouco mais simples, um pouco mais fácil de reconstruir. Quem tiver alguma dúvida é só ir atrás dos vídeos no YouTube do grande produtor panamenho, El Chombo, que tem se dedicado um pouco a esclarecer os mitos e, um pouco tal vez, as mentiras ao redor do Reguetón que, como alguns pensam, não nasceu em Puerto Rico. Em Puerto Rico ele tomou a sua forma, como a gente conhece, mas ele não nasceu em Puerto Rico, e também não nasceu no Panamá, que é outra história que se diz.
Na verdade, o ritmo, a base rítmica do Reguetón, a célula rítmica básica que muitas vezes se diz que seria o ritmo do Dembow vindo da Jamaica. Na verdade, o um ritmo seria o Dancehall vindo sim da Jamaica, que seria um pouco quando o Reggae vai se transformando, tirando os instrumentos e um DJ consegue animar uma festa, ele sozinho, por isso chama Dancehall, porque conseguia animar uma festa, uma pessoa só, aquele DJ. Essa música seria o Dancehall e uma música muito famosa chamada Dembow foi a que trouxe esse ritmo, levou esse ritmo para o Panamá, inclusive com uma música chamada precisamente Dembow, que foi a música que abriu precisamente nosso Programa.
Essa música, gravada nos Estados Unidos, foi produzida para o Panamá e virou um sucesso absoluto e se tomou como a base do Dembow, que seria o que se conheceu no Panamá como reggae em espanhol, que não era outra coisa que esse ritmo caribegnho com algumas transformações e um canto que muitas vezes se parecia mais com o hip-hop, com o rap. Então era uma espécie de hip-hop, de rap cantado em espanhol com aquela base do Denbow, que na verdade era Dancehall vindo da Jamaica, mais gravado nos Estados Unidos, especificamente para o público de Panamá. Essa sonoridade, essa instrumentação, como eles falam, virou um sucesso extraordinário lá no Panamá chamado de Reggae em espanhol. Um sucesso realmente extraordinário, não só no Caribe, mas em todo o continente.
Dali depois foi para o Porto Rico e ali teve uma sua ulterior transformação. Nesse nosso primeiro bloco então a gente vai escutar alguns exemplos do que é um reggae espanhol no Panamá que depois iria virar um Reguetón, seria mais ou menos uma coisa como um Reguetón primordial, um Reguetón inicial. E a gente vai ver que são umas composições realmente com uma base rítmica bem clara, bem estudada, mas umas composições realmente feitas com poucos elementos tecnológicos, quase artesanal. E foi assim que esse ritmo se difundiu. Não teve apoio inicialmente das indústrias, não teve apoio da rádio, da televisão, mas o Reggae espanhol era distribuído em fita cassete, especialmente nos ônibus de serviço de transporte público que tinham naqueles rádios superpotentes, naqueles ônibus, botavam esses sucessos e ficaram muito populares, mas com uma distribuição praticamente pirata. E dali, depois, vai para Porto Rico.
Então a gente vai escutar alguns exemplos desse Reggae em espanhol, onde vocês podem notar a qualidade às vezes artesanal da produção, as letras, às vezes, um pouco simples, a rima, às vezes, não dá muito certo. Mas é importante lembrar que aqui foi um sucesso internacional incrível, por exemplo, com a música do Tu Pum Pum, do El General, que foi talvez uma das figuras mais comerciais. Se tomaram todo o mercado latino-americano de dança, todos os jovens dançavam essa música. Outras músicas como, por exemplo, o Gato Volador, que vai fechar esse nosso bloco, do El Chombo, e a música El Marciano, onde se demonstra realmente o limite que tinha esse formato. Era uma forma de compor música, uma forma artesanal, uma forma de fazer música, às vezes um pouco quase infantil, às vezes um pouco com uma fórmula bem simples que se aplicava várias vezes. Mas realmente chegou no seu limite e foi para Puerto Rico, onde teve uma transformação realmente extraordinária. Vamos então começar esse nosso Programa Clandestino falando de Reguetón e nesse nosso primeiro bloco vamos escutar alguns importantes exemplos de reggae em espanhol. Que seria o Reguetón primordial lá no Panamá, no Caribe. É, como sempre, um Programa Clandestino da Rádio Eixo.
Nota 2
Continuamos o nosso Programa Clandestino reguetonero, falando um pouquinho da história do Reguetón. O reggae espanhol vira um sucesso internacional incrível, no começo não sendo apoiado pela grande indústria, mas depois, como sempre, quando aparece a possibilidade de lucro, a grande indústria também se interessa. E esse produto do reggae em espanhol vira febre latino-americana e chega em Porto Rico, onde tem uma transformação radical. Lá em Porto Rico, vai se começar a fazer, a utilizar esse mesmo ritmo do dembow e começar a fazer hip-hop. E como acontece com esses ritmos populares, ele nasce nos bairros mais humildes, nos bairros mais difíceis, e as pessoas vão falar do que acontece nos seus bairros.
Mas o Reguetón também tem outra vertente que até hoje é polêmica e que é muito importante, que a questão da dança, não só as letras dos jovens, dos bairros populares, eram polêmicas, mas a sua forma de dançar também, um pouco que acontece aqui no Brasil com o funk carioca e outros ritmos populares, que são mal vistos pela elite, pela sua sensualidade e pela sua entre aspas vulgaridade. Pois bem, no Reguetón essa é uma componente extremamente importante, a forma de dançar que é chamada inclusive de perreo e não quer dizer outra coisa que a imitação de uma relação sexual entre cachorros. Esse é o perreo que se mantém até hoje e era muito mal visto na sociedade de Puerto Rico.
Como também no Panamá, as primeiras gravações de Reguetón que, na verdade ali se inventou o nome, que seria “maratona de reggae”, seria esse nome que colocam lá em Puerto Rico, essas primeiras gravações eram também bem artesanais e bem piratas e em um determinado momento inclusive ilegais. Foi chegado a se proibir dançar e cantar música de Reguetón porque, segundo a classe branca bem pensante, estaria estragando jovens, seria uma fonte de delinquência e de maus hábitos, como acontece sempre com as expressões das juventudes periféricas. Então no começo era chamado inclusive de underground, já que se realizava em lugares um pouco furtivamente, um pouco de forma pirata, em algumas discotecas.
Uma importantíssima discoteca era The Noise, onde se tocava somente Reguetón dessa forma ilegal e toma muita força entre os jovens que começam a escutar e a dançar de forma escondida. Mas como sempre acontece, virando uma febre e virando uma fonte de lucro, é apoiado pela indústria e começa a se transformar. Nesse nosso segundo bloco, então, vamos escutar alguns exemplos do início do Reguetón. A gente vai escutar, por exemplo, a música Bomba para afincar de Vico C e outras músicas associadas com esse momento da discoteca The Noise, onde surgiram umas figuras importantíssimas do Reguetón, que mudaram realmente a história do Reguetón. E vamos ver um pouco como vai evoluindo essa história, essa qualidade da música no começo de uma forma um pouquinho mais artesanal, um pouquinho mais simples, indo se profissionalizando cada vez mais, incluindo umas ferramentas musicais tecnológicas cada vez mais complexas e pegando uma sonoridade mais profissional e mais fácil de escutar.
Vamos escutar então um pouco dessas músicas que trazem também um pouco do conflito, dos problemas e as dificuldades que os jovens passavam e os preconceitos como a música, por exemplo, Vinimos a matar, que era realmente uma música provocadora, mas que tem, por exemplo, a sua resposta com a música de Eddie Dee, Señor Oficial, onde ele vai falar diretamente para a polícia, vai perguntar porque eles são tão perseguidos, porque sempre a polícia vai atrás dos jovens. E continuaremos escutando algumas outras vozes muito importantes, como Big Boy, com a música Voz Sensual, que foi um sucesso realmente em vários países do continente, e outras figuras importantíssimas, como por exemplo, o Tego Calderón, que vai fechar esse nosso bloco com a música Métele Sazón. O Tego Calderon, que é uma figura fundamental, pois foi se desmarcando um pouco do Reguetón mais comercial, e por muitos reconhecido como o representante do Reguetón que faz as letras mais inteligentes, mais profundas, e que fala de uma crítica um pouco mais destacada daquele Reguetón mais comercial e mais fácil de escutar.
Vamos então com o nesse segundo bloco, escutar já o que se conhece como Reguetón, Reguetón de Puerto Rico, já com o nome Reguetón oficialmente, e vamos tentar escutar como foi evolucionando essa produção musical, sendo cada vez mais profissional, mais sofisticada e também mais comercial. É um Programa Clandestino de Reguetón aqui na Rádio Eixo.
Nota 3
E o Reguetón já é maior de idade, já saiu do Panamá, vindo com o ritmo de Dancehall, o Dembow, da Jamaica, vai para Puerto Rico, vira um ritmo internacional, vira um ritmo reconhecido e ganha reconhecimento global. A gente vai começar esse nosso terceiro bloco, escutando uma música que foi um sucesso absoluto, e que marcou um pouco, que deu um pouco a forma, deu um pouco o parâmetro do que é o Reguetón comercial, o Reguetón conhecido globalmente, e é a conhecidíssima música Gasolina de Daddy Yankee. Realmente, uma superprodução é uma música que já tem vários anos, e realmente se mantém fresca, mantem o efeito, precisamente, do que eles procuravam, que é uma música, um Reguetón mais sofisticado, limpo, mas que mantém a base rítmica que é irresistível e ainda mantém uma forma de cantar mais forte, uma forma de cantar mais exigente, menos comercial e menos nos parâmetros do que acontece hoje em dia.
Vamos então começar esse nosso terceiro bloco com um pouco do Reguetón depois que ele vira comercial e com as diferentes vertentes, as diferentes visões que alguns artistas têm dado a esse ritmo. Então, a gente vai escutar depois de Daddy Yankee, a música Lo grande que es perdonar, que é uma interessantíssima música, que canta Vico C junto ao Gilberto Santa Rosa, que é um cantor de salsa, mas eles se juntam e fazem esse Reguetón com arranjo de música clássica, inclusive nos corais, realmente é a demonstração que o Reguetón é realmente um ritmo extremamente versátil. E escutaremos, como não podia ser diferente, o grupo Calle 13 com a música Atreve-te-te. Porque Calle 13, foi importantíssimo por demonstrar que dava para fazer Reguetón não comercial, embora tenha muito sucesso, Reguetón crítico e Reguetón falando especificamente contra a indústria e contra os artistas que um pouco se venderam a um giro mais comercial, a parte mais comercial do Reguetón.
E controlaram escutando algumas músicas como Oye Mi Canto, que é cantado por Nina Sky e na versão de Tego Calderon, que é outro exponente de Reguetón mais crítico, menos comercial, mas que foi um sucesso absoluto nos Estados Unidos e que demonstrou que o Reguetón começava a ser, como ainda hoje talvez, um ritmo que juntava todos os latinos jovens, que não tinha vivenciado a época da Salsa e outros ritmos latinos nos Estados Unidos e que trazia uma identidade latina lá nos Estados Unidos. É isso que vai cantar essa música, e outros exemplos de Reguetón mais moderno e Reguetón que nos demonstra que é possível um pouco falar de outras coisas.
Porque o Reguetón foi sempre acusado por ser um ritmo que realmente nas suas letras muitas vezes foi e, é às vezes, machista, pois trata como objeto às mulheres, traz realmente às vezes uma misoginia que é impossível de esconder. Mas hoje em dia tem algumas artistas que vem tratando exatamente o contrário, usando o ritmo em Reguetón para falar inclusive de letras feministas e demonstrando que a música em si não é a culpável, mas sim a forma como ela é interpretada, a forma como ela é tratada pelos homens. Temos dentro desses exemplos a música No depilada da artista Lapilli e Miss Bolivia também que vai cantar na sua música Se quema, com uma letra bem parecida. Como não podia faltar teremos a Karol G importantíssima cantora colombiana que recentemente assinou o contrato discográfico mais ambicioso, mais desafiador da história, assinado por uma artista latina. E fecharemos com outras artistas realmente muito interessantes, como Villano Antillano, que é uma artista de trans que canta Reguetón, e Arca, que é uma poliartista, é uma artista gráfica, uma artista plástica que é também cantora com a música Prada Rakaka.
Isso para demonstrar que o Reguetón talvez tenha se perdido um pouco no comercial, mas o que é verdade é que essa sonoridade, esse ritmo, essa forma de dançar, esse patrão rítmico, essa forma de sentir a música, hoje em dia não tem mais donos, não tem mais quem diga que o inventou e que é o dono dele, e qualquer um praticamente pode pegar esse ritmo, transformá-lo e falar das coisas mais variadas, e ele como ritmo está totalmente vigente e talvez por algum tempo ainda. É o Programa Clandestino reguetonero, o Programa Clandestino de Reguetón, aqui, como sempre, na Rádio Eixo.
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