Paola Antony
Existe um trajeto por galerias de artes visuais em Brasília e no DF que vai além daquelas bancadas por uma grande empresa.
São galerias e ateliês independentes, idealizados por artistas ou coletivos que imprimem nesses espaços sua maneira de pensar e apresentar a obra de arte e que, por isso, nos levam a reflexões inesperadas.
Uma delas é a Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo, um galpão-galeria que fica em Planaltina, em frente à pracinha São Sebastião, perto do Centro Histórico da cidade e que tem como característica ser um espaço multiuso – serve tanto como galeria para exposição de obras de arte, como para confecção de obras, e ainda oferece cursos e palestras.
Segundo os idealizadores João Angelini e Marcela Campos, a ideia é que o espaço seja contemporâneo para artistas e para a comunidade. Tem tanto a função de formar artistas como a de aproximar a população planaltinense, do entorno e de Brasília do convívio com a arte contemporânea.
João Angelini _O Pé Vermelho é um ponto de chegada de uma história antiga em que vários artistas pensavam como superar algumas lacunas, tanto na nossa formação quanto na nossa profissão de artista, compreendendo toda essa estrutura que a gente chama de sistema de arte. Como é que você se forma em um lugar periférico, como é que você se mantém artista em um lugar periférico ao sistema da arte que hegemonicamente, no Brasil, concentrou tudo na região sudeste? Como você, sendo um artista não sudestino, consegue ter uma formação aprofundada não tendo acesso territorial às manifestações de arte, inclusive dos seus próprios territórios - porque a produção do seu território é recorrentemente extraída por uma lógica colonial bandeirantista que tira desse território e leva para o sudeste também. Então nem a nossa própria produção, às vezes, a gente consegue ter contato. A gente foi pensando muito: que lacunas são essas? Que contribuição a gente pode dar nesse lugar de formar artistas públicos e mercado de arte também?
Pra nós é muito curioso criar uma estrutura que permite operar o mercado de arte em Planaltina, de arte contemporânea.
Então foi muito importante a questão do território mesmo, do terreno. A gente tem um galpão-galeria. Pensar a estruturação disso tudo foi fundamental pra gente estar nesse lugar.
Paola Antony _ Quais são os desafios positivos e negativos de se estar dentro desse contexto?
João Angelini _ O maior desafio de lidar com a limitação que nos é imposta, eu acho que é superar um apagamento, um silenciamento que é colocado para qualquer pessoa que tem algum marcador social não hegemônico: racial, de gênero, territorial. Então como é que uma produção periférica ao sistema de arte do centro-oeste, a periferia da periferia, vai conseguir ter espaço para escoar e circular dentro dessa lógica hegemônica dada, que sempre privilegia a produção dos mesmos territórios, feitas pelos mesmos corpos? Então, superar essa distância é um desafio enorme.
Marcela Campos_ E eu acho que o aspecto positivo é pensar nesse espaço como libertário diante das mil violências que os artistas já sofrem nos espaços institucionais, com os curadores, com os agentes de arte, colecionadores, museólogos, diretores de espaços culturais, que muitas vezes podam e limitam certos trabalhos e não permitem que a arte contemporânea avance dentro de lugares que eram pra ser contemporâneos, ter esse espaço, liberta.
E para nós, visitantes, o Pé Vermelho - Espaço Galeria instiga, acrescenta, encanta.
Vale uma ida até Planaltina para desfrutar dessa proposta artística que, como ouvimos nessa rápida conversa, liberta.
A entrada é gratuita e aberta a toda a comunidade.
A visitação é de quinta a sábado, das 16h às 20h, mediante agendamento pelo pevermelho@pevermelho.art.
O Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo fica na Avenida 13 de maio, Quadra 57, Lote 6 – Praça São Sebastião – Setor Tradicional, Planaltina – DF.
No Instagram e no Facebook @pervermelhoec.
Para ouvir a matéria, acesse o link: https://soundcloud.com/radioeixo/galeria-pe-vermelho-paola-antony-jornalismo
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