A utilização de ervas medicinais em indígenas e não indígenas
Paola Antony
A oportunidade de estar mais perto de pessoas indígenas de diferentes etnias e sabedorias, promovida pela Aldeia Multiétnica, evento que se realiza anualmente na Chapada dos Veadeiros, me levou até o raizeiro Tunuly Yawalapiti, representante dos Povos do Alto Xingu.
Erveiro da aldeia, Tunuli, do povo Yawalapiti, trabalha para a comunidade indígena e para os não indígenas. “Eu estou sendo muito procurado pelos não indígenas também”, comenta Tunuli. “Eu trato as doenças que não têm cura como a asma, a sinusite que é muito ruim, que cega as pessoas e a doença que se chama gastrite e que é muito ruim também. Tem a infecção de úteros das mulheres e infecção nos rins. Essas eu trato. Eu faço a garrafada, faço a pomada líquida e as pessoas ficam tomando e se curam dessas doenças” explica o raizeiro xinguano que vem tratando também de pessoas com câncer que o procuram, desacreditadas pelos médicos.
Tunuli aprendeu a sabedoria das ervas medicinais porque ficou doente aos 39 anos e o pai o curou de um derrame pleural. A partir daí ele se interessou pelo processo da cura. Me disse que, quando jovem, não queria ser raizeiro, mas o episódio de sua própria cura o fez se dedicar à medicina indígena e herdar os conhecimentos do pai. Além do uso de ervas, Tunuli é também benzedeiro.
Sua esposa, Makuá, sentada ao seu lado e em frente à oca Xinguana, onde me receberam, não fala português. Ela contou, em sua língua, segundo a tradução do marido, que ao vê-lo curar as pessoas passou a aprender o trabalho de raizeira. Ela o acompanha buscando as ervas e fabricando remédios oriundos da mata em que vivem.
“Onde moramos tem os remédios. Lá ainda é uma mata alta e tem bastante remédio. A gente mora bem no centro do Xingu mas a parte que está beirando as fazendas já está contaminada pelo veneno e eu não uso nada que fica na beira da fazenda. Tratar as pessoas não é brincadeira, tem que pegar as ervas boas para as pessoas se curarem”, explica Tuluni e acrescenta que a proximidade com o veneno pode estar afetando a saúde das pessoas. “A fazenda já se encostou toda na reserva. No tempo da chuva, da enchente, a água que cai corre para o rio e leva todo o veneno. Então eu acredito que os peixes que a gente come já estão contaminados, a água talvez. Eu acredito que a gente está comendo veneno”, lamenta o raizeiro e com razão. Segundo a matéria “Agrotóxico é usado como 'arma química' contra aldeias indígenas em MS” publicada no site tab.uol.com.br em 2022, “pesquisas lideradas pelo professor e pesquisador Wanderlei Pignati, do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), apontaram a presença de agrotóxico em até 100 quilômetros para dentro da Reserva Indígena do Xingu. Isso porque as nascentes e os cursos de seus rios estão em áreas de produção intensiva de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar”.
Para ouvir a entrevista clique no link https://soundcloud.com/radioeixo/raizeiros-do-alto-xingu-radioeixo?in=radioeixo/sets/aldeia-multietnica-2024
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