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Paola Antony

Sérgio Magalhães


Hoje nosso encontro é com o cantor e compositor Sérgio Magalhães, carioca radicado em Brasília há cerca de 20 anos. Sérgio é também profissional da construção civil, mestre de obras, e foi em Brasília, em meio a construções, que descobriu seu talento para a música. Hoje ele é um dos bambas do samba no Distrito Federal.

Sérgio Magalhães tem um álbum lançado que se chama Ouro do Meu Peito, que contém treze faixas, sendo doze delas escritas por ele e uma, que se chama Guardião, composta em parceria com Clodo Ferreira.

Paola Antony – Sérgio, como foi que você se descobriu músico, compositor?

Sérgio Magalhães – Há uma coisa interessante aí, porque eu não sabia que já compunha. Eu já escrevia algumas coisas no Rio, mas nunca levei muito a sério nada, entendeu? Apesar de uma vez ter participado de um festival de música na Baixada Fluminense, em São João de Miriti, com um samba que fiz, de que nem me lembro mais. Eu não me dava conta disso. Quando cheguei aqui, tinha trazido um violãozinho velho, em que eu arranhava umas coisinhas, e, de vez em quando, na noite, em casa, com meu filho, ficava tocando algumas coisas de que eu me lembrava, Cartola, Nelson, Dona Ivone. Uma vizinha, a Miri, disse que queria conversar comigo e perguntou se eu poderia fazer uma serenata para o marido dela, porque era aniversário dele. Eu achei aquilo incrível e topei.

A gente ficou ali, brincando, tomando uma cerveja e me lembrei de umas coisas que tinha feito no Rio e que nunca tinha mostrado para ninguém. Foi aí que eles começaram a me incentivar. Até que, com muita insistência da minha irmã também, a Thelma, nós participamos de um festival no Núcleo Bandeirante, Canto Cidade Livre, e fomos contemplados entre os dez finalistas, gravamos uma coletânea em um CD e comecei a conhecer alguns músicos, entre eles, o Nunes, um violonista muito bom, que me orientou a procurar a Escola de Música de Brasília.

Eu nem sabia o que era uma clave de sol, eu não levava a sério nada disso, mas uma outra amiga, a Jô, que também queria fazer a inscrição, insistiu muito e fomos. Como eu não sabia nada, tinha de cantar no solfejo, fui sorteado com a vaga e comecei a estudar na Escola de Música em 2013 e lá tive o prazer de conhecer a Maria de Barros, que até hoje é muito amiga minha, professora de canto, e o Jaime Ernest Dias e foi o Jaime o responsável por tudo isso. Ele me apresentou às pessoas, me levou para cantar, para me apresentar, e foi o primeiro a escrever um samba meu, me ensinando a partitura. Ele é o responsável por essa doideira toda.

Paola Antony – Sérgio, sobre seu disco, que por sinal eu passei o dia ouvindo, o Ouro do Meu Peito — e que adorei —, notei que há uma música em que você fala de um cotidiano de obra, de construção civil. Todo tempo é pouco, não é isso?

Sérgio Magalhães – Esse samba é um barato. Foi o seguinte: eu estava fazendo uma obra para um amigo e ele, muito afobado, querendo ver logo tudo pronto, a gente terminando a fundação e ele já pensando na porta, janela, eu falei: "Calma, rapaz, para chegar lá tudo tem sua etapa". Ele falou: "Não, a gente tem de aproveitar, porque todo tempo é pouco". Quando ele falou isso, comecei a escrever no saco de cimento, porque o processo é esse. Comecei a cantar o samba para eu não esquecer. Passei o dia todinho cantando aquele samba, até memorizar. Esse samba, Todo Tempo É Pouco, retrata exatamente o movimento do canteiro de obra com as gírias de obra, da construção, ou seja, quando estou no campo vibratório da música, eu vou compor, não tem jeito.

Paola Antony – Sérgio, a gente vem falando das músicas, mas como foi pensar no disco, essa história de você se perceber músico, compositor, até chegar no disco?

Sérgio Magalhães – A ideia do disco foi sugestão de várias pessoas, vários amigos que me cobravam, no bom sentido. Nunca foi um interesse meu gravar um CD, mas, com o tempo, fui sentindo a necessidade de fazer um registro. Inclusive, devo ser sincero e lhe dizer que não queria gravar esse disco naquele momento, devido a um problema de saúde que tive no estômago e que prejudicou muito a minha voz, mas tínhamos de cumprir uma data por causa do FAC.

Tive a felicidade de ter um trabalho dirigido pelo Fernando César e com uma galera fantástica. Um grupo de amigos muito talentosos, que deram cor e brilho a algumas composições minhas. O Ouro do Meu Peito é o samba que retrata exatamente toda essa gama de sentimentos que provocou essas composições, de onde elas surgiram e nasceram e fiquei muito feliz com o registro, que é importante para a minha vida e sei que é também uma contribuição importante para a cultura e o samba em Brasília.

Paola Antony – Sérgio, você, como representante bem citado do samba, o que acha do samba e da música em Brasília?

Sérgio Magalhães – Brasília tem uma característica muito interessante, é uma fusão cultural muito forte, né? Toda a expressão cultural do Brasil você encontra aqui em Brasília e até de outros países. Eu nunca aceitei muito bem essa ideia de que Brasília é a capital do rock. Acho que teve um período em que se propagou essa ideia, mas não tinha como vingar, porque a cultura brasileira é muito forte, e o samba, a meu ver, é a maior expressão cultural do país. Os trabalhadores que vieram para a fundação da capital trouxeram suas culturas e expressões de todos os estados e o samba também buscou seu espaço em Brasília, trazendo sua contribuição. Hoje nós temos grandes sambistas em Brasília, como Breno Alves, Teresa Lopes, Kris Maciel; compositores bons como Dynho Alves, Henrique Nepomuceno, Pedro Cariello, Cacá Pereira, entre outros, que contribuem muito para a expressão do samba em Brasília. Sem falar nos músicos que são excelentes e que trouxeram uma linguagem única, completamente diferenciada, que vai se entranhando em todas as vertentes e no samba. O samba em Brasília é muito legal, tem ainda de melhorar em termos de expressão popular, é necessário, a meu ver, mais políticas públicas nessa área, mais apoio, mas os artistas e os músicos, caminham muito bem nessa vertente do samba. O samba, em todos os lugares a que chega, encontra seu espaço como majestade e fica. Brasília tem seu trono também.


A entrevista completa com Sérgio Magalhães para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.



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