Programa Clandestino 149 – ZZK Records
Nota 1
Começa neste momento, na Rádio Eixo, mais um Programa Clandestino, música sem documentos. Lembrando que o nosso Programa Clandestino é realizado nessa temporada de 2024, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, FACI-DF.
E dessa vez, vamos dedicar o nosso Programa Clandestino a um selo discográfico, a uma gravadora. Vai ser o primeiro de vários, de alguns, especiais que vamos fazer, dedicados a selos discográficos independentes, a selos discográficos, gravadoras independentes, alternativas. Dessa vez, vamos lá para a Argentina, para ver um pouco da história dessa gravadora, que começou de uma forma talvez involuntária, que começou não sendo uma gravadora, começou na verdade sendo uma festa. Uma festa nas quartas-feiras, lá na cidade de Buenos Aires, e foi virando um movimento cultural, foi virado um coletivo e que acabou sendo uma gravadora, inclusive hoje uma produtora de documentário, uma produtora de filmes sobre música.
Lá no ano de 2008, se juntaram três figuras importantes na cena musical alternativa local. Grant C. Dull, um gringo, um texano que morava em Buenos Aires há um tempo, que chegou lá procurando música, procurando música alternativa, procurando música entre aspas, folclórica e virou parte da cena local. Se juntou com dois DJs, DJ Nim e DJ Villa Diamante, que eram também conhecidos, e começaram a pensar em fazer uma festa, uma festa alternativa. Era um momento político, um momento social da Argentina muito particular. Sabemos que a Argentina passa de ciclos de crise um após o outro, mas em 2001, aquela crise profunda na Argentina e levou, segundo eles, segundo os próprios criadores da festa e do selo discográfico, os argentinos olharam um pouco para si mesmos, segundo eles falam, perceber que Buenos Aires não era Paris, não era Nova Iorque, não era Rio de Janeiro. Mas era uma cidade do terceiro mundo, uma cidade empobrecida, eles não eram europeus como alguns acreditam, e começaram a olhar para o próprio folclore, para os próprios vizinhos também, para a produção folclórica, entre aspas, para a produção musical e cultural dos vizinhos e a sua própria produção própria, tentando procurar as próprias sonoridades argentinas, as próprias sonoridades populares, e isso levou a misturar com um pouco de eletrônica. Misturando tanto a eletrônica, a Cumbia como o folclore.
Criando claramente, como sempre acontece, um pouco de desconforto entre os puristas e privilegiando, basicamente, produções alternativas, mas que fossem produções sempre vanguardistas, que procurassem umas novas sonoridades, a experimentação e a mistura sempre respeitando as componentes, mas a mistura desrespeitando os purismos e criando novas sonoridades e novas propostas. Nasce assim então a festa, uma festa que era as quartas-feiras, um dia difícil, segundo eles, já que tinham outras festas acontecendo, e é um dia difícil, no meio da semana. Mas começa a ter um sucesso extraordinário, começam a aparecer uma série de artistas, DJs, produtores, produtores audiovisuais também, outros artistas, e começa a aparecer uma produção que realmente era muito rica, era muito vanguardista, muito inovadora, era um momento de criação extraordinário. E a festa vira um sucesso absoluto, juntando uma série de figuras bem importantes e cresce cada vez mais até virar um selo discográfico.
A gente começou o nosso Programa Clandestino, escutando uma música que é realmente bem particular, é Animal Chuki com a música Frutero, que é uma música gravada em cima de “decimas” de Nicomédes Santa Cruz, aquele importantíssimo cantor, poeta, artista, representante da cultura afro-peruana. E eles fazem essa mistura um pouco para demonstrar o espírito do ZZK Records, que é um pouco misturar as novas sonoridades, as novas ferramentas, mais com um olho no passado, com um olho no próprio. E que melhor que as “décimas”, as poesias de Nicomédes Santa Cruz, junto com essa música eletrônica. E vamos continuar esse nosso primeiro bloco, com algumas produções que misturam realmente as sonoridades tradicionais e outros sons, outros ritmos, entre aspas, folclóricos, com novas experimentações e que traem esse ritmo, essa proposta inovadora, fresca e única. É o Programa Clandestino então, dedicado ao selo discográfico ZZK Records, lá da Argentina, aqui como sempre, na Rajo Eixo.
Nota 2
Continuamos nosso Programa Clandestino, escutando um pouco da produção, falando um pouco da história do selo discográfico independente e alternativo lá da Argentina, ZZK Records. Estamos então no ano 2008, final dessa década, numa Argentina em ebulição, uma Argentina em crise, mas com uma produção artística e musical extremamente interessante, que pegava precisamente, aproveitava, como acontece muitas vezes, aproveitava esse momento de incertezas, esse momento de reflexão, de queda, de certezas, para criar uma produção nova, uma produção que reconhecia a autenticidade da cultura argentina, da cultura latino-americana, da cultura dos vizinhos latino-americanos, mas sem cair nos clichés, sem cair no exotismo, sem cair no chauvinismo, misturava com novas sonoridades, experimentava e criava novas produções.
Tudo isso acontecia às quartas-feiras na cidade de Buenos Aires. Mas com uma produção tão importante que foi crescendo e acabou virando um selo discográfico com o nome ZZK, ZZK Club era o nome da festa, depois ZZK Records e ZZK Films hoje em dia. Bem, como alguns de vocês podem estar suspeitando já, o nome vem do filósofo esloveno Slavoj Zizek. E era um pouco uma brincadeira, o nome surge um pouco como uma brincadeira, diante da dificuldade de escolher um nome interessante, um nome que transmitisse um pouco o sentido da festa, o sentido do projeto. Ai o Diego Bulácio, o DJ Villa Diamante, um dia brincando na reunião falou Zizek, que era uma referência ao filósofo, era uma referência porque, segundo eles, demonstrava a mistura entre a cultura pop e a cultura filosófica mais clássica. Aquele jeito um pouco inconformado, aquele jeito diferentão, de poder trazer um pouco essa ideia do que eles estavam fazendo, misturando a eletrônica, trazendo um pouco da Cumbia, trazendo um pouco da música folclórica argentina. Mas também tem um efeito onomatopeico com a Cumbia, com aquele sobrenome Zizek e o acompanhamento rítmico da Cumbia. É um nome chamativo e que funcionou muito bem.
Aliás, quando a festa e o coletivo começam a tomar umas dimensões bem importantes, começam a ser conhecidos, eles vão inclusive fazer uma turnê pelos Estados Unidos, pela Europa, e realmente o projeto toma umas dimensões extraordinárias. O próprio Zizek ficou sabendo que tinha uma festa, que tinha um coletivo, que tinha um selo discográfico, que lá, em Buenos Aires, tomava o nome dele. Em uma entrevista, ele falou que isso era extraordinário, um extraordinário paradoxo porque, sem metáforas, ele era totalmente incapaz de dançar, ou de cantar, ou de qualquer habilidade musical, mas achava extremamente interessante isso. A festa, então, foi crescendo, foi ficando cada vez mais conhecida, e como já falamos, o coletivo, naquele momento, se formou ao redor da festa, já com o projeto do selo discográfico para juntar, para prensar, editar e divulgar os trabalhos que estavam sendo apresentados lá ao vivo pelos DJs e produtores.
Eles vão então em festivais importantes nos Estados Unidos, em Coachella e outros festivais importantíssimos, e tomam uma relevância que, com certeza, no começo do projeto, não estava nos planos de ninguém. Simplesmente queriam fazer uma festa, uma festa às quartas-feiras, na cidade de Buenos Aires, mas a produção foi tão rica que eles criaram realmente esse selo discográfico. A gente vai continuar exportando, neste segundo bloco, umas músicas um pouco menos folclóricas, entre aspas. Um pouco menos relacionadas com ritmos tradicionais, um pouco mais de experimentação, mas dá para sentir ainda a Cumbia e outras experimentações. Você poderá notar que tem um trabalho muito particular. Todas as produções realmente vêm de artistas que trabalham profundamente com a pesquisa e que têm consciência do que estão fazendo, das raízes que eles estão chamando, da experimentação que eles estão propondo. E o seu trabalho é da mesma qualidade como tem acontecido nas produções da ZZK Records. É o selo alternativo, casa discográfica alternativa argentina ZZK Records aqui, como sempre, no Programa Clandestino.
Nota 3
Vamos chegando no nosso terceiro e último bloco dedicado a artistas que têm sido gravados e proporcionados pelo interessantíssimo selo independente, gravadora, independente, nascida na Argentina, ZZK Records. Como já falamos, a ZZK Records não é simplesmente uma gravadora surgindo com uma festa, uma festa entre aspas eletrônica, de eletrônica orgânica, como eles a chamam às vezes, que é essa eletrônica que mistura outros ritmos. É uma festa completa, não era simplesmente música, tinha também artistas visuais, artistas gráficos e isso dava a perceber muito bem na própria produção da ZZK Records. Se vocês forem acompanhar a produção dessa casa discográfica na internet, no YouTube e na própria página deles, notarão que cada produção a nível gráfico é extremamente complexa, tem um trabalho bem interessante atrás, a parte gráfica é extremamente interessante. E não só no YouTube, vocês poderão encontrar os vídeos e videoclipes dessas músicas, dessas artistas que também têm um trabalho muito aprofundado e que têm como marca pessoal, digamos, como marca única, a experimentação, a mistura de várias sonoridades, mas também de vários referentes estéticos.
E realmente cada produção é basicamente uma obra de arte que eles entregam ao público, não produzindo muito realmente, sei que não faz, não prensam muitos discos anualmente. Eles têm uma produção própria que não é muito grande, não é mainstream, não produzem artistas já reconhecidos, tentam mais trazer sempre produções novas, produções que experimentam e levar ao público os artistas que estão trazendo inovações e que estão explorando as línguagens. Nesse último bloco, vamos precisamente escutar as músicas mais experimentais, alguns dos fundadores do ZZK Club, da festa, falam inclusive que nas primeiras épocas da festa as experimentações chegavam às vezes ao ponto do absurdo, sem chegar nós nesse ponto, nesse último bloco, vamos dedica-lo então às músicas um pouco mais experimentais, um pouco mais diferentes, onde se chega ao limite da linguagem e às vezes leva um pouco de tempo para acompanhar a proposta do artista, para acompanhar a proposta dos músicos e produtores.
Mas é interessante se dar uma olhada na página da ZZK Records, nas redes sociais deles, para ver a proposta riquíssima, a proposta não só musical, mas também estética que eles trazem, continua sendo um selo alternativo, independente, que continua lançando novos artistas, novas experimentações e traz um pouco de novidade nesse mundo mainstream da música latina um pouco dominada pelo Regueton. Realmente ZZK traz uma proposta alternativa e diferente, que sai um pouco da mesmice, que sai um pouco das sonoridades mais comerciais e demonstra que tem sempre artistas, músicos novos que estão inovando, que estão experimentando, com as linguagens. É a ZZK Records, lá da Argentina, aqui no nosso Programa Clandestino, na Rádio Eixo.
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